É preciso avisar a Bolsonaro e à futura ministra dos Direitos Humanos que o Estado é laico

Não faz muito tempo, Jair Bolsonaro disse que sua equipe de governo seria composta por notáveis. Como o presidente eleito tem conceitos distintos para muitos vernáculos, é preciso saber o que ele entende por notável, pois até agora o que se viu foi a formação de uma equipe ministerial com pessoas desconhecidas, o que de chofre contrapõe aos notáveis.

Bolsonaro afirmou recentemente que governaria longe das questões ideológicas, mas algumas de suas escolhas para a equipe ministerial mostram que o eleito não escreve sentado o que diz em pé. Isso porque a indicação da pastora Damares Alves para o Ministério dos Direitos Humanos é baseada apenas e tão somente na ideologia da direita evangélica, que, é bom ressaltar, está cada vez mais radical.

Uma pasta como a dos Direitos Humanos exige alguém com competência técnica e bom trânsito no setor, mas Bolsonaro preferiu escolher alguém que fizesse eco ao seu pensamento sabidamente retrógrado e propulsado pela discriminação.

Acusado de ser racista, homofóbico e misógino – algo comprovado com extrema facilidade por suas polêmicas declarações –, Jair Bolsonaro precisou adotar o discurso politicamente correto para não perder votos durante a campanha. Adoçou o palavrório para induzir o eleitor a erro, mas agora imprime o seu estilo ultrapassado ao escolher Damares como ministra dos Direitos Humanos.


Não se pode esquecer que, em 2017, o agora presidente eleito declarou: “Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”.

Damares Alves não fica longe desse pensamento obtuso. “As instituições piraram nesta nação. Mas há uma instituição que não pirou. E esta nação só pode contar com essa instituição agora. É a igreja de Jesus”, afirmou a futura ministra em vídeo gravado em 2016.

“Só há um lugar seguro em que o seu filho está protegido nesta nação. É o templo, é a igreja, é ao lado do seu sacerdote”, afirmou. “Não podemos confiar em mais nenhuma instituição neste país para cuidar dos nossos filhos, todas elas estão falidas. A escola não é mais lugar seguro para os nossos filhos”.

Bolsonaro e Damares podem não gostar, mas o Estado é laico. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso VI, estabelece: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

Se Damares Alves quer evangelizar o País, o cargo de ministra dos Direitos Humanos não é o mais adequado. Jair Bolsonaro pode ter suas crenças, mas foi eleito presidente de todos os brasileiros, que são iguais independentemente da corrente de fé. Ou seja, ou respeita-se a lei, ou a bagunça em que se transformou o Brasil há de aumentar.