No âmbito do poder, toda decisão é tomada tendo o “termômetro” da opinião pública como referência. Até porque,uma medida, por mais impopular que seja, torna-se palatável caso o governante goze de prestigio junto à sociedade. O que não significa que esse cenário cobre a decisão de acertos.
É o caso de Jair Bolsonaro,o presidente eleito, cujo governo ainda não começou, mas já enfrenta percalços.O escândalo envolvendo Fabrício de Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL fluminense, ficou muito tempo sem uma resposta por parte do capitão reformado do Exército.
Quando Bolsonaro decidiu se manifestar, na noite de quarta-feira (12), o estrago já estava consumado, e a explicação foi insuficiente, mas agradou a massa que continua acreditando que um governo revanchista será capaz de resolver o amontoado de problemas que chacoalha o País.
Desde a primeira notícia sobre a citação do nome de Fabrício de Queiroz no relatório do Coaf – coube ao jornal “O Estado de S. Paulo” revelar o escândalo – até agora, as manifestações da família Bolsonaro foram escassas e pífias, mesmo com a inócua ajuda dos futuros ministros Onyx Lorenzoni e Sérgio Moro. Em suma, dúvidas ficaram no ar e fermentaram com o tempo.
Quem conhece os escaninhos do poder sabe como se desenrola o novelo de um escândalo capaz de abalar a credibilidade de um governo, principalmente de um governo que sequer estreou. O sumiço do ex-assessor parlamentar e o silêncio quase obsequioso dos Bolsonaros levam a crer que nos bastidores advogados cuidavam de um script juridicamente aceitável.
Como sempre acontece quando um imbróglio surge em cena, todos os personagens alegam inocência. Não se trata de fazer juízo de valor e condenar por antecipação, mas causa estranheza a sequência dos capítulos dessa novela “bolsonariana”.
Em transmissão ao vivo pela rede mundial de computadores, na quarta-feira, Jair Bolsonaro disse: “Se algo estiver errado, que seja comigo, com meu filho ou com Queiroz, que paguemos a conta deste erro, que não podemos comungar com erro de ninguém”. Como já mencionou o UCHO.INFO em matéria anterior, até recentemente nada havia de ilícito, mas agora o presidente eleito já fala “se algo estiver errado”. Mesmo assim, que prevaleça o preceito constitucional da presunção da inocência, algo que Bolsonaro não sabe respeitar quando seus adversários estão no olho do furacão.
Contudo, o futuro presidente da República não perdeu a oportunidade de recorrer ao dramalhão, assim como fazia Lula: “Dói no coração da gente? Dói, porque o que nós temos de mais firme é o combate à corrupção”, acrescentou.
Jair Bolsonaro tem assegurado o direito de manifestar livremente o próprio pensamento, mesmo que para tal tenha de recorrer às inverdades, mas é heresia afirmar “o que nós temos de mais firme é o combate à corrupção”.
Caso tivesse o combate à corrupção como missão primeira de sua carreira política, Bolsonaro jamais teria ficado tanto tempo filiado ao Partido Progressista, legenda que “forneceu” à Operação Lava-Jato uma considerável quantidade de corruptos. E Jair Bolsonaro sempre soube que o PP operava dessa maneira. Sendo assim, não há como alegar que desconhecia o modus operando dos seus outrora correligionários.
Flávio Bolsonaro, por sua vez, seguiu a mesma linha da manifestação dopai ao falar sobre o escândalo envolvendo o ex-assessor. Em texto publicado no Facebook, o senador eleito afirmou: “Mantendo nossa coerência de sempre, não existe passar a mão na cabeça de quem errou. Não fiz nada de errado, sou o maior interessado em que tudo se esclareça pra ontem, mas não posso me pronunciar sobre algo que não sei o que é, envolvendo meu ex-assessor”.
Ora, há uma dicotomia clara nas manifestações de Flávio Bolsonaro. Há dias, ele disse ter ouvido do ex-assessor, no último final de semana, uma “explicação plausível” sobre o rumoroso caso. Pelo que se sabe, ninguém ouve explicação de algo que desconhece. Esse desencontro discursivo sugere que está em marcha uma missa encomendada da pior qualidade para salvar os mandatos da família.
Como sempre acontece quando escândalos atingem políticos e poderosos, a imprensa é arrastada para a vala da culpa. E no caso em questão, culpar os veículos de comunicação é cair no lugar comum, pois a família Bolsonaro nutre verdadeira ojeriza à imprensa, exceto aos noticiosos dados à sabujice.
“A mídia está fazendo uma força descomunal para desconstruir minha reputação e tentar atingir Jair Bolsonaro. Basta ver como abordam a movimentação na conta de meu ex-assessor, como se ele tivesse recebido R$ 1,2 milhões, quando na verdade foram R$ 600 mil que entraram mais R$ 600 mil que saíram de sua conta. Ainda assim um valor alto e que deve ser esclarecido por ele, que tomou a decisão de não falar com a imprensa e somente falar ao Ministério Público. Isso é ruim pra mim, mas não tenho como obrigá-lo”,escreveu Flávio Bolsonaro.
Confira abaixo a movimentação suspeita de funcionários dos gabinetes dos seguintes deputados da Assembleia Legislativa do RJ, segundo o Coaf
André Ceciliano (PT) – R$ 49,3 milhões
Paulo Ramos (PDT) – R$ 30,3 milhões
Márcio Pacheco (PSC) – R$ 25,3 milhões
Luiz Martins (PDT) (preso) – R$ 18,5 milhões
Dr. Deodalto (DEM) – R$ 16,3 milhões
Carlos Minc (PSB) – R$ 16 milhões
Coronel Jairo (SD) (preso) – R$ 10,2 milhões
Marcos Müller (PHS) – R$ 7,8 milhões
Luiz Paulo (PSDB) – R$ 7,1 milhões
Tio Carlos (SD) – R$ 4,3 milhões
Pedro Augusto (MDB) – R$ 4,1 milhões
Átila Nunes (MDB) – R$ 2,2 milhões
Iranildo Campos (SD) – R$ 2,2 milhões
Márcia Jeovani (DEM) – R$ 2,1 milhões
Jorge Picciani (MDB) (preso) – R$ 1,8 milhão
Eliomar Coelho (PSOL) – R$ 1,7 milhão
Flávio Bolsonaro (PSL) – R$ 1,3 milhão
Waldeck Carneiro (PT) – R$ 700 mil
Benedito Alves (PRB) – R$ 500 mil
Marcos Abrahão(Avante) – (preso) R$ 300 mil