O discurso farsesco e embusteiro de Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo sobre ditadores e ditaduras

Desde a campanha presidencial, Jair Bolsonaro, agora presidente eleito, externava seu desapreço aos governos da Venezuela e de Cuba, mesmo tendo, em passado não tão remoto, exaltado o venezuelano Hugo Chávez, não sem antes revelar seu desejo de conhecer o comandante bolivariano.

Com o desastre da esquerda verde-loura, que ruiu na esteira do conjunto de escândalos de corrupção do Petrolão, Bolsonaro mudou o discurso e passou a regurgitar sua ojeriza ao comunismo, especialmente porque assim poderia arregimentar um exército de eleitores.

Seus apoiadores, sempre toscos em termos de democracia, não demoraram a aderir à candidatura do capitão reformado, sugerindo aos adversários que se mudassem para a Venezuela ou para Cuba. Pensamento raso e binário, típico de quem não consegue racionar de maneira lógica e inteligente diante dos fatos.

Há dias, a equipe de Jair Bolsonaro anunciou que havia desfeito o convite Nicolás Maduro e Miguel Díaz-Canel, presidentes da Venezuela e de Cuba, respectivamente, para a cerimônia de posse em Brasília, em 1º de janeiro. Na verdade, Maduro recusou o convite, mas o entourage de Bolsonaro preferiu minimizar o estrago com uma versão de última hora.

Os assessores de Jair Bolsonaro solicitaram ao Itamaraty que fossem convidados os presidentes e chefes de Estado de todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas. E assim foi feito. Como o presidente eleito acostumou-se a jogar para a plateia, surgiu, então, a versão do desconvite.


O UCHO.INFO afirmou em matéria anterior que a decisão denotava, de chofre, o despreparo diplomático do futuro governo, que condenou as administrações petistas por pautarem a política externa pelo viés ideológico, mas agora ensaia movimento idêntico ao retaliar os governos de Caracas e Havana.

Foi o suficiente para que a turba cibernética de Bolsonaro partisse para o ataque, sempre a reboque de insultos e ofensas, como se na democracia o contraditório não tivesse espaço garantido. A manada enfurecida de adeptos de Bolsonaro alegou que o novo governo não pode compactuar com ditadores. Essa foi a desculpa mediana dos ensandecidos. E o próprio Jair Bolsonaro usou o Twitter para afirmar que a decisão era contra “regimes que violam as liberdades de seus povos”, cantilena endossada por Ernesto Araújo, futuro ministro de Relações Exteriores.

Acontece que não é bem essa a realidade. Entre os mandatários convidados para a posse de Bolsonaro estão os de países que nem de longe podem ser considerados democracias, de acordo com levantamento da ONG Freedom House: Síria (Bashar Al-Assad), Sudão (Omar al-Bashir), Eritreia (Isaias Afewerki), Coreia do Norte (Kim Jong-un), Turcomenistão (Gurbanguly Berdimuhammedow), República Centro-Africana (Faustin-Archange Touadéra ) e Líbia (Aguila Salah Issa).

Segundo a Freedom House, a Síria, o país menos democrático da lista, teve nota negativa, -1. O Sudão ficou com 2 pontos; Eritreia e Coreia do Norte, 3; Turcomenistão, 4. A República Centro-Africana e a Líbia, que fecham a lista dos doze piores, ficaram com 9 pontos. Cuba recebeu nota 14, a mesma da China; a Venezuela, 26. O levantamento da Freedom House leva em conta 195 países – 49, 25% do total, foram considerados “não livres”.

Tomando por base o dito popular “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”, Jair Bolsonaro deveria ser coerente, pelo menos agora, e desconvidar os mandatários mencionados acima. Afinal, não respeitam a democracia.