Bolsogate: presidente da República complica-se ao afirmar que sabia dos “rolos” de Fabrício Queiroz

“Toda nação tem o governo que merece”, disse o escritor e filósofo francês Joseph-Marie de Maistre (1753-1821). Essa profecia, que vem atropelando séculos, também se encaixa na atemporal realidade brasileira, inclusive no momento em que o País vive à sombra do populismo tosco e rasteiro de Jair Bolsonaro.

E que ninguém espere milagres, pois populistas são especialistas em engôdos, confirmando tese do alemão Friedrich Nietzsche, que um dia afirmou: “Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”.

Se há um assunto que tira o sono da família Bolsonaro, esse é o escândalo que tem na proa Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente da República e que foi flagrado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em movimentação bancária considerada “atípica”.

Falar sobre o escândalo depois de empossado no cargo mais importante do País certamente não é fácil, mas é “menos difícil”. Mesmo assim, todas as vezes que Bolsonaro fala sobre o assunto as dúvidas só crescem, revelando que o angu tem caroços de sobra. A grande imprensa, que agora teme perder suas fontes, começa a deixar de lado alguns temas espinhosos, como se o “Bolsogate” não merecesse explicação.

Decidido a vingar-se dos veículos de comunicação que lhe causaram problemas durante a campanha – o que contraria sua fala após eleito – Bolsonaro só concede entrevista a duas emissoras (Record e SBT), guindadas ao status de “Granma” do novo governo brasileiro.

Ao SBT, em entrevista exibida na noite de quinta-feira (3), Jair Bolsonaro voltou ao assunto. Disse o presidente da República que sabia que o ex-assessor do filho, senador eleito Flávio Bolsonaro, “fazia rolo”.

“Ele falou que vendia carros, eu sei que ele fazia rolo. Agora, quem vai ter que responder é ele. O Coaf fala em movimentação atípica, isso não quer dizer que seja ilegal, irregular. Pode ser”, declarou Bolsonaro.


O presidente afirmou que Queiroz “sempre gozou de toda confiança” dele, mas frisou que prefere não entrar em contato com o homem que em declaração ao próprio SBT afirmou ser “um fazedor de negócio”. Ou seja, Bolsonaro fala em “rolo”, mas Fabrício fala em “negócio”.

“Até que ele prove o contrário, não pretendo conversar com ele. Até porque, se eu for conversar com ele, vão falar que eu estou tentando aconselhá-lo de uma coisa ou de outra. Não quero contato com ele até que isso venha a ser esclarecido”, disse o novo inquilino do Palácio do Planalto.

Os bolsonaristas entram em torvelinho quando cobramos explicações sobre o escândalo, mas o presidente da República declara que sabia dos “rolos” do ex-assessor do filho. Mesmo assim, nada fez para impedir para que Fabrício Queiroz trabalhasse no gabinete de Flávio Bolsonaro.

Como se não bastasse, mesmo sabendo que Queiroz era “fazedor de rolos”, conviveu com o ex-assessor do filho, com impressionante intimidade, durante longos anos, com direito a churrascos nos finais de semana, pescarias, peladas e outros quetais.

O presidente, que agora tenta vender falsa inocência, sabia dos “rolos” de Fabrício Queiroz, mas contratou Nathalia Melo de Queiroz, filha do multiplicador de cédulas, como assessora parlamentar. No horário em que deveria trabalhar para Jair Bolsonaro, a onipresente Nathalia atuava como “personal trainer” no Rio de Janeiro.

Jair Bolsonaro sabia dos “rolos”, mas nada fez para impedir que o ex-assessor entupisse o gabinete do filho com seus apaniguados. É importante lembrar que Fabrício Queiroz era apenas motorista de Flávio Bolsonaro. Queiroz também empregou no gabinete de Flávio, na Alerj, sua mulher, Márcia Aguiar; outra filha, Evelyn Melo de Queiroz; a enteada, Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim; e o ex-marido da sua esposa, Márcio da Silva Gerbatim.

Márcio Gerbatim é sobrinho de Maxwell Gerbatim, cabeleireiro que há anos é responsável pelas das madeixas do agora presidente da República. Márcio, Maxwell, Fabrício e Jair Bolsonaro Queiroz e Bolsonaro, Márcio integraram a Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército. Considerando que na política verde-loura não há espaço para coincidências, a ordem é cobrar explicações, pois há fumaça de sobra nesse escândalo.

O presidente sabia dos “rolos” do ex-assessor do filho, mas consentiu com depósito no valor de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta bancária de Michelle Bolsonaro. Considerando que na política verde-loura não há espaço para coincidências, a ordem é cobrar explicações, pois há fumaça de sobra nesse escândalo.