(*) Ucho Haddad
A essa altura dos acontecimentos, Stanislaw Ponte Preta está a dar piruetas na tumba. Isso porque, sem qualquer nesga de cerimônia, o governo do “mito” começa a avançar sobre o folclórico “Febeapá” – Festival de Besteiras que Assola o País.
Como escrevi em artigo anterior, os seguidores de Jair Bolsonaro movem-se na esteira de fúria incontrolável quando o presidente é alvo de qualquer crítica. Não importa o fato de a crítica ser consistente e baseada na realidade, pois o James Bond de Pindorama foi guindado pelos abduzidos ao panteão das divindades nacionais. E num passe de mágica a verdade é transformada em fake news, ponto final. De igual modo, o governo, que começou aos tropeços, não pode receber qualquer reprimenda. Isso posto, o Brasil começa a servir de palco para destampatórios aqui e acolá.
Porém, se a sabedoria popular diz que a César o que é de César, não há como fugir à regra. Sendo assim, a Jair o que é de Jair. O presidente cumpriu muito antes da hora uma promessa de campanha: ele de fato começou botando para quebrar. Para quebrar o próprio discurso. “Formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil”, disse o empossado presidente no parlatório palaciano.
Bolsonaro foi tão rápido, que nem tive tempo de reforçar o encosto da cadeira para acompanhar a ópera bufa de maneira mais confortável. No segundo dia útil do governo, ou seja, com os motores ainda em fase de aquecimento, a ministra Damares Alves, aquela da goiabeira, chamou para si o protagonismo oficial e disse, em vídeo, que “menino veste azul e menina veste rosa”. Em suma, quem usar qualquer outra cor que se cuide.
A bizarrice da ministra é tamanha, que no tal vídeo ela comemora “uma nova era no Brasil”. Diante desse cenário picaresco que Bolsonaro e seus quejandos tentam impor à sociedade, o Brasil já era. E isso não merece comemoração alguma.
Damares está confundindo um ministério com outro. O dos Direitos Humanos com o da fé. Tanto é assim, que declarou em alto e bom som ao ser empossada no cargo: “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”. Se o objetivo é fazer pregação às custas do dinheiro público, o melhor é pedir demissão, antes que alguém ingresse na Justiça contra a ministra. Não obstante, o governo já é alvo de chacotas cibernéticas ao redor do planeta por causa desses devaneios.
Senhora de ousadia tão impressionante quanto a própria estupidez, Damares resolveu explicar o inexplicável. E não deixou dúvidas de que o governo está disposto e decidido a ingerir na vida e nas decisões das famílias brasileiras. A última vez que me deparei com esse ultraje foi logo após cruzar o Muro de Berlim para visitar a Alemanha Oriental.
Por questões óbvias, Damares Alves disse que sua fala foi metafórica. Nesse ponto recorro ao binarismo do pensamento dos bolsonarianos para, recuando no tempo, estacionar no besteirol de Dilma Rousseff. Quando a então presidente da República sugeriu “ensacar vento”, seus adversários trataram o assunto como fruto da ignorância. Mas no caso de Damares foi uma metáfora que os intolerantes (sic) não compreenderam.
Voltando à polêmica das cores rosa e azul… O que Dona Damares pensa a respeito do vestido da Cinderela? Será que a ministra acredita que o conto de fada tem como propósito a doutrinação ideológica das crianças? Ou Damares sofre do complexo de Gata Borralheira?
Disse certa feita o filósofo e teólogo francês Ernest Renan: “A estupidez humana é a única coisa que dá uma ideia do infinito”.
Como mencionado acima, Bolsonaro afirmou em seu discurso de posse, no parlatório, que “formou uma equipe de ministros técnicos e capazes de mudar o Brasil”. Cada ser humano tem um referencial próprio de competência, mas afirmar que Damares é competente é sinal de incompetência.
Para o presidente, que publicamente já reconheceu ignorar diversos temas, falar sobre competência é temerário. A questão em si não é duvidar da competência desse ou daquele integrante do governo, mas questionar se alguns ministros estão na pasta correta.
Depois da bizarra declaração cromática da ministra, talvez o astronauta Marcos Pontes devesse estar à frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, pois parece ter os pés no chão, mesmo que um dia tenha passado perto do “mundo da lua”. Sobre Damares Alves, ou ela comeu goiaba com bicho, ou na infância lhe ofereceram hóstia estragada.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.