O presidente da República admitiu publicamente, durante a campanha, que é um néscio em termos de economia, ocasião e que usou o termo “Posto Ipiranga” para se referir a Paulo Guedes, o agora todo-poderoso ministro da Economia.
Na primeira semana de governo, Bolsonaro, encantado com o cargo, esqueceu o que falara durante a corrida presidencial e acabou dando declarações desencontradas sobre questões econômicas, levando o mercado financeiro a ficar com o pé atrás. Além disso, o a temperatura nos bastidores do governo, em especial na equipe econômica, subiu repentinamente, provocando mal-estar entre alguns integrantes.
O “bombeiro” desse incêndio foi o secretario especial da Receita Federal, Marcos Cintra, que após a declaração de Bolsonaro sobre a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a redução da alíquota máxima do Imposto de Renda desembarcou no Palácio do Planalto, na sexta-feira (4), para uma conversa com o presidente.
Ao deixar o encontro, Cintra disse que houve um equívoco por parte do presidente da República, mas que tudo estava resolvido. Na sequência, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, concede entrevista aos jornalistas, mas teve dificuldades para responder algumas perguntas.
Nesta segunda-feira (7), depois de um final de semana de silêncio quase obsequioso por parte dos palacianos, emissários do governo trataram de disparar informações para contrapor as notícias sobre um eventual clima de desentendimento entre a equipe econômica e o presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), general da reserva Augusto Heleno, disse que Bolsonaro e Paulo Guedes são “best friends’.
Heleno pode dizer o que quiser, mas nos bastidores as informações divergem dessas declarações. O clima não é bom e uma eventual melhora depende da boa vontade do presidente da República em não imiscuir em assuntos econômicos. A grande questão é que se Bolsonaro aceitar essa recomendação, feita por assessores mais próximos, lhe caberá o papel de rainha da Inglaterra tupiniquim, pois os maiores problemas nacionais estão na economia ou dependem dela.
O calcanhar de Aquiles do governo Bolsonaro, assim como dos anteriores, está no déficit fiscal, que por sua vez é refém da reforma da Previdência. É nesse campo que encontra-se a zona de conflito entre o Palácio do Planalto e a equipe econômica. Se por um lado Bolsonaro insiste em uma reforma da Previdência mais suave, por outro o grupo de Paulo Guedes aposta em reforma mais drástica e profunda. Resta saber se o presidente bancará a proposta a ser apresentada pelo “Posto Ipiranga”.
Nesta segunda-feira, Paulo Guedes procurou minimizar os ruídos existentes na própria equipe econômica, assim como os pontos de conflito com os palacianos. O ministro da Economia certamente não falaria o contrário, até porque seria o mesmo que mandar o governo pelos ares logo nos primeiros dias, mas é preciso ressaltar que há muito desentendimento nas coxias do poder central. O que explica a postura ressabiada do mercado financeiro nacional.