Bolsogate: Bolsonaro precisa avisar a Fabrício Queiroz que o “coitadismo” está com os dias contados

Em outubro de 2018, a caminho do segundo turno, o então presidenciável Jair Bolsonaro disse que, se eleito, acabaria com o “coitadismo” no País. “Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso”, declarou à época o candidato do PSL em entrevista à TV Cidade Verde, do Piauí.

O presidente da República poderia voltar no tempo e, rememorando sua fanfarronice declaratória, lembrar Fabrício Queiroz que o “coitadismo” está com os dias contados, se é que Bolsonaro de fato conseguirá cumprir com suas promessas de campanha.

Pivô de um imbróglio que vem tirando o sono da família Bolsonaro, o ex-assessor parlamentar Fabricio Queiroz começa a abusar da vitimização no escopo do caso da movimentação bancária “atípica” apontada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Queiroz, que trabalhava no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), movimentou R$ 1,2 milhão no período de doze meses, mas em entrevista ao SBT alegou que os recursos que transitaram por sua conta bancária são provenientes da compra e venda de carros usados.

Contudo, o Coaf destaca em relatório que transferências e depósitos foram feitos de maneira regular por servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro na conta de Fabrício, o que sugere cobrança de parte dos salários dos funcionários. Esse

Uma das filhas de Fabrício, Nathalia Queiroz, é citada em dois trechos do relatório. O documento não detalha os valores individuais das transferências dela para o pai, mas junto ao nome de Nathalia está o valor de R$ 84 mil. Ela foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, e foi exonerada em 15 de outubro de 2018, mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio, na Alerj. Nathalia, que é “personal trainer” recebeu em setembro, pelo gabinete de Jair Bolsonaro, salário de R$ 10.088,42.


Além disso, há no relatório do Coaf um depósito no valor de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro, atual primeira-dama do País. O presidente da República afirmou que trata-se do pagamento de parte de um empréstimo feito ao ex-assessor, mas até agora nenhum documento foi apresentado para comprovar o que foi dito.

Em São Paulo, onde submeteu-se a cirurgia para a retirada de um tumor no intestino, no Hospital Albert Einstein, Fabrício Queiroz disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” que “em breve” esclarecerá a movimentação bancária classificada pelo Coaf como “atípica”, se comparada com seus rendimentos mensais. Mas Queiroz aproveitou a oportunidade para se fazer de vítima e afirmou que está sendo tratado como “o pior bandido do mundo”.

Se Fabrício Queiroz é o que ele próprio afirma não se sabe, mas bastava responder às intimações do Ministério Público do Rio de Janeiro e esclarecer de vez o assunto. Ao contrário, o ex-assessor preferiu “esticar a corda”, dando a entender que algo escuso existe no caso que ganhou fermentação adicional por conta dos personagens coadjuvantes.

“Após a exposição de minha família e minha, como se eu fosse o pior bandido do mundo, fiquei muito mal de saúde e comecei a evacuar sangue. Fui até ao psiquiatra, pois vomitava muito e não conseguia dormir”, disse ao Estadão o ex-assessor e policial militar da reserva. “Estou muito a fim de esclarecer tudo isso. Mas não contava com essa doença. Nunca imaginei que tinha câncer”, completou.

Se de fato Queiroz tem uma explicação “bastante plausível”, como disse Flávio Bolsonaro, não havia razão para esquivar-se do Ministério Público fluminense, mesmo com a alegação de problemas de saúde. Se o ex-assessor encontrou tempo e disposição para conceder entrevista ao SBT, poderia depor sem problema algum. Só não o fez porque algo estranho há nesse enredo.

Tudo o que foi dito até então sobre o caso é muito pouco diante da repercussão. A persistir a falta de uma explicação, as consequências para o governo de Jair Bolsonaro são imprevisíveis, assim como para a própria família do presidente. Tanto é assim, que o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), general da reserva Augusto Heleno, disse que Fabrício deve uma explicação “mais convincente”.