Em novo espetáculo dantesco, governo Bolsonaro recua e muda edital para compra de livros didáticos

Se há no planeta um modelo de governança que reflete a essência da confusão, esse é o de Jair Bolsonaro, que chegou ao comando do País na esteira da promessa de resolver todos os problemas nacionais, tendo as questões ideológicas como entrave maior.

Bolsonaro, como sabem os brasileiros, é um despreparado confesso que transformou-se, nos últimos dias, em alvo de chistes por conta dos recuos diante de medidas do próprio governo e dos desmentidos por parte de seus colaboradores. O que mostra que o governo está a bater cabeças muito mais do que o esperado. E aqueles que não o desmentem são protagonistas de espetáculos pífios.

Nesta quarta-feira (9), veio a público uma decisão do governo Bolsonaro de flexibilizar o edital para compra de livros didáticos que serão entregues em 2020. O Ministério da Educação, sob o comando de Ricardo Vélez Rodrigues, havia decidido retirar do edital exigências como referências bibliográficas e itens que impediam publicidade e erros de revisão e impressão. Ou seja, o vale tudo pode se tornar a marca de um governo que estreou aos tropeços.

Além disso, o governo Bolsonaro eliminou a obrigatoriedade de menção nos conteúdos de temas como violência contra a mulher e promoção dos quilombolas, pois Bolsonaro e seus quejandos entendem que essas pautas ligadas à esquerda. Ou seja, o governo do capitão reformado precisa urgentemente de um divã, talvez de uma camisa de força.

Porém, essa patuscada direitista não durou muito tempo, pois as críticas da opinião pública e da imprensa obrigaram o governo a desistir da mudança. Como era esperado, a soberba dos palacianos impediu o reconhecimento do erro, que de chofre foi transferido para o governo anterior, como pode ser constatado na nota abaixo, divulgada pelo Ministério da Educação.


“O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, decidiu tornar sem efeito o 5º Aviso de Retificação do edital do PNLD 2020, publicado no dia 2 de janeiro, tendo em vista os erros que foram detectados no documento cuja produção foi realizada pela gestão anterior do MEC e enviada ao FNDE em 28 de dezembro de 2018. O MEC reitera o compromisso com a educação de forma igualitária para toda a população brasileira e desmente qualquer informação de que o Governo Bolsonaro ou o ministro Ricardo Vélez decidiram retirar trechos que tratavam sobre correção de erros nas publicações, violência contra a mulher, publicidade e quilombolas de forma proposital”.

Ex-ministro da Educação no governo Temer, Rossieli Soares afirmou que “não pode se responsabilizar” por erros cometidos na gestão Bolsonaro. O “aviso de alteração” saiu no Diário Oficial no dia 2 de janeiro, sendo que integrantes da atual equipe de governo já trabalhavam na transição dentro do MEC desde dezembro.

Segundo Rossieli, em dezembro foi solicitada apenas uma alteração no edital para esclarecer regras sobre arquivos de áudio que acompanham os livros didáticos. “Nós não pedimos nenhuma alteração que diminua o papel da mulher ou do quilombola, pelo contrário, fizemos a uma retificação em outubro que deixou mais clara a importância disso”, afirmou Rossieli, que atualmente comanda a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Que Jair Bolsonaro decide hoje para mudar de ideia amanhã todos sabem, mas transformar o governo em laboratório de experiências absurdas é passar recibo de irresponsabilidade e incompetência. Sem ter como cumprir as promessas de campanha, Bolsonaro só tem a fanfarronice como ferramenta para anestesiar a consciência daqueles que lhe confiaram o voto. A grande questão é que insistir em alguns temas é suicídio político. O que explica a sequência de recuos em apenas uma semana de governo.