Bolsogate: ultimato do encurralado Queiroz teria levado Flávio Bolsonaro a recorrer ao Supremo?

Ao solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão do inquérito contra Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o senador eleito Flávio Bolsonaro cometeu um erro crasso, merecedor da expressão popular “corda para se enforcar”.

Tão logo veio a público o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontando movimentação bancária atípica de Fabrício Queiroz ao longo de doze meses (2016-2017), com direito a depósito no valor de R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o senador eleito passou alguns dias em silêncio quase obsequioso, até que resolveu se pronunciar. Após encontro com Queiroz, Flávio Bolsonaro disse que ouvira do ex-assessor, em dado final de semana, explicação “bastante plausível”.

Dias depois, Jair Bolsonaro, que ainda não havia tomado posse como presidente da República, mas àquela já sofria os efeitos colaterais do escândalo, disse que o valor depositado na conta de Michelle era fruto de pagamento de parte de empréstimo (R$ 40 mil) concedido a Fabrício. Além disso, o agora presidente afirmou que se ele e o filho fossem culpados, ambos assumiriam a responsabilidade de seus atos.

Depois dessa declaração, apenas Flávio Bolsonaro se manifestou a respeito do escândalo, afirmando que não tinha qualquer envolvimento no caso e as explicações deveriam ser dadas por seu ex-assessor, Queiroz, por sua vez, saiu de cena, mas surgiu a informação que passou alguns dias reunido com advogados e contabilistas, talvez para construir uma desculpa minimamente aceitável.

Em seguida começou a circular a informação de que Fabrício Queiroz, além do cargo de assessor parlamentar, exercia atividades paralelas, como a de vendedor de bijuterias e comerciante de veículos usados. Na sequência a primeira atividade paralela saiu do enredo, sem que os repetidos depósitos feitos em sua conta bancária por assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro tivessem explicação, assim como as transferências feitas por suas filhas, à época lotadas na Alerj como assessoras do agora senador eleito.

Vencidas essas declarações nada convincentes, Flávio Bolsonaro adotou postura reservada, sendo que seu pai, o presidente da República, concedeu entrevista ao SBT, em que tratou superficialmente do escândalo. Como na política inexistem coincidências, dias antes da entrevista Bolsonaro esteve em São Paulo para exames médicos no Hospital Albert Einstein e aproveitou o ensejo para almoçar na casa do empresário Silvio Santos (Senor Abravanel), dono do SBT.


Seguindo um roteiro previamente combinado, Fabrício Queiroz também concedeu entrevista ao SBT, em que negou qualquer ilegalidade em sua conta bancária. Na ocasião, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro disse que era um “fazedor de negócios”.

Mais recentemente, Flávio Bolsonaro declarou não ser responsável pelas atividades dos seus assessores para além dos limites do gabinete parlamentar. Discurso fácil e embusteiro, que não convence aqueles que têm massa cinzenta e não foram abduzidos pelo mantra falacioso e visguento do então candidato Jair Bolsonaro.

A decisão de Flávio de recorrer ao STF é descabida em termos jurídicos porque atropela a lógica sequencial em termos de instâncias da Justiça, sem contar que como senador eleito ele ainda não tem direito a foro privilegiado no âmbito da Suprema Corte.

Contudo, o recurso foi motivado pelo desespero não apenas do senador eleito, mas também e principalmente do presidente da República, que poderia entrar em um torvelinho político se a investigação avançasse. Em relação a Flávio Bolsonaro, a situação tornou-se ainda mais difícil porque o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, afirmou que poderia denunciar Queiroz e todos os envolvidos no escândalo mesmo sem os respectivos depoimentos, pois as provas são contundentes.

No que se refere a Jair Bolsonaro, o caso é mais complexo, já que a filha de Queiroz, a Nathalia Queiroz, trabalhava no Rio de Janeiro como assessora parlamentar do então deputado federal, mas no horário de expediente exercia a atividade de personal trainer, inclusive de algumas celebridades do universo da representação. O problema maior, que pode desaguar em processo na Câmara dos Deputados e na Justiça, é que o gabinete de Jair Bolsonaro atestou a presença de Nathália no trabalho, sem qualquer falta. Como assessora de Bolsonaro, Nathalia recebia R$ 10 mil mensais, além de benefícios.

Causa espécie o fato de Flávio Bolsonaro ter se antecipado e solicitado ao STF a suspensão do inquérito contra seu ex-assessor. Se o senador eleito não tem envolvimento com o escândalo, como ele próprio já afirmou, como essa ida ao Supremo sua condição passa a ser de quase réu confesso. Por outro lado, Fabrício Queiroz, que está cada vez pressionado, assim como seus familiares, pode ter dado um ultimato na família Bolsonaro, no melhor estilo “ou me salvam, ou conto tudo. A conferir!