Na interinidade da Presidência da República enquanto Jair Bolsonaro participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o vice Hamilton Mourão tem seguido o script palaciano na tentativa de minimizar o estrago produzido pelo escândalo conhecido como Bolsogate.
Mourão disse há dias que o rumoroso caso, que envolve o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e o senador eleito Flávio Bolsonaro, não é assunto do governo, apesar de um dos protagonistas do escândalo ser filho do presidente da República. “É preciso dizer que o caso Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo”, declarou o vice-presidente.
Se por um lado, segundo o Conselho de Controla de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz teve movimentação bancária “atípica” ao longo de doze meses (2016-2017), por outro Flávio, também de acordo com o órgão, recebeu em sua conta bancária, em apenas cinco dias, 48 depósitos no valor de R$ 2mil, feitos em caixa eletrônico disponível na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Tal procedimento, segundo o Coaf, sugere dissimulação para ocultar lavagem de dinheiro.
Que Hamilton Mourão queira demonstrar lealdade ao presidente da República é compreensível, mas é preciso reconhecer que não há como dissociar a figura de Jair Bolsonaro do escândalo que vem tirando o sono do clã e causando indignação na opinião pública.
Por mais que os palacianos queiram minimizar o caso, alguns militares que assessoram o presidente cobram explicações convincentes de Flávio Bolsonaro sobre o caso, até porque ninguém colocará à prova o próprio currículo para servir como cortina de fumaça para um escândalo que piora a cada dia.
Além de ter afirmado que concedeu empréstimo a Fabrício Queiroz, sem até agora não ter provado o que disse, Jair Bolsonaro alegou que o depósito na conta da agora primeira-dama (R$ 24 mil) feito pelo ex-assessor do filho refere-se ao pagamento de parte da dívida. Isso significa que Bolsonaro recebeu dinheiro de Queiroz, o que exige de ambos a comprovação da ilicitude da operação. Caso contrário, dos dois continuarão na vala da suspeição.
Jair Bolsonaro precisa decidir o que deseja fazer em relação ao caso. Ou lança o filho aos leões para manter o verniz ético (sic) do próprio mandato, ou preserva Flávio Bolsonaro e corre o risco de ser abandonado pelos aliados mais próximos, o que pode culminar em crise política imprevisível. Como Bolsonaro já demonstrou não ter voz de comando junto aos filhos, tudo é possível.