Davos: Bolsonaro ignora a lógica econômica e promete a investidores internacionais o impossível

O Brasil vive um momento ímpar. Depois de treze anos e alguns meses de populismo barato e banditismo político, obra dos governos de Lula e Dilma Rousseff, o País mergulhou em estranho cenário de abdução de parte da população, que simplesmente não aceita qualquer crítica ao presidente Jair Bolsonaro, mesmo que fundamentada e endossada por especialistas nos mais diversos temas.

No pronunciamento que fez nesta terça-feira (22) em Davos, na Suíça, no Fórum Econômico Mundial, Bolsonaro faltou com a verdade em diverso momentos, diante de uma plateia de investidores internacionais ávida por informações sobre as medidas que serão adotadas pelo governo brasileiro, em especial na área econômica.

O presidente brasileiro, raso e genérico em sua fala, para não afirmar que foi pífio e evasivo, disse que o governo goza de credibilidade para fazer as reformas que necessita. Mas Bolsonaro não explicitou as reformas, ciente de que a da Previdência preocupa sobremaneira os investidores estrangeiros.

Bolsonaro afirmou que o governo investirá pesado na segurança, mas até agora os brasileiros não sabem de onde sairão os recursos para esses vultosos investimentos anunciados na Suíça pelo chefe do Executivo federal. Considerando que o déficit fiscal brasileiro em 2019 está previsto em R$ 139 bilhões, falar em investimentos pesados sem revelar a fonte de recursos é fácil.

Como se o déficit fiscal fosse pequeno e nada representasse, Jair Bolsonaro foi além e afirmou: “Vamos diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos.”

Reduzir a carga tributária é um sonho dos brasileiros e uma promessa de todo governante desde a Constituição de 1988. Nesses trinta anos, muitos ensaios ocorreram para reduzir a carga tributária, mas na “Hora H” tudo fica na mesma.


O Estado brasileiro, como um todo (União, estados e municípios), gasta atualmente 25% a mais do que arrecada, considerando os juros da dívida pública. Com um déficit público girando na casa de 9% do PIB, falar em redução da carga tributária remete automaticamente à elevação do endividamento público.

A dívida pública brasileira está, atualmente, em 78% do PIB, maior relação (dívida-PIB) entre os países emergentes. Caso Bolsonaro cumpra a promessa de reduzir a carga tributária, o efeito imediato seria o aumento do chamado “risco-país”, o que comprometeria a recuperação da economia. Isso afastaria investidores, que preferem aportar recursos em locais seguros, ou elevaria o custo do dinheiro para o Brasil.

Como o Brasil precisa do investimento privado, o melhor que o governo pode fazer é evitar que Jair Bolsonaro fale sobre economia, assunto que ele próprio já reconheceu publicamente não dominar. Por isso apelidou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de “Posto Ipiranga”.

Além disso, falar em redução da carga tributária, o que remete ao encolhimento da arrecadação, sem ao menos ter apresentado uma solução para o déficit fiscal, é no mínimo sinal de irresponsabilidade. Ademais, qualquer medida na área econômica, como pretende Bolsonaro, não surte efeito em pouco tempo. Talvez em um mandato (quatro anos) nada do que foi prometido em Davos aconteça de fato.

Entre os muitos participantes do Fórum de Davos, a extensa maioria tem conhecimentos avançados sobre economia, ou seja, Bolsonaro jamais poderia ter feito um pronunciamento marcado por inverdades, pois, ao contrário do que pensam seus seguidores e aduladores, a imagem passada aos investidores foi de descrédito e desconfiança.

Atualmente em 34% do PIB, a carga tributária brasileira tende a aumentar em eventual processo de recuperação da economia. E isso se dará em ritmo maior do que o avanço do Produto Interno Bruto. O “Posto Ipiranga por certo sabe disso”, mas é preciso deixar que ele fale, pois de política ele não entende. O Bolsonaro também não!