Em pífio pronunciamento em Davos, Bolsonaro mente sem cerimônia a investidores internacionais

O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Mundial Econômico, em Davos (Suíça), nesta terça-feira (22) foi tão pífio, que qualquer gazeteiro de praça de cidade de interior faria melhor. É no mínimo vergonhoso um chefe de Estado que -se a uma plateia repleta de investidores internacionais e limita-se a fazer os papeis de agente de turismo e de demonizador de ideologias adversárias, como se isso interessasse a quem busca investimentos sólidos e seguros.

Bolsonaro foi a Davos como presidente, mas ainda não percebeu que continua em campanha. Seu palavrório ainda contém o ranço da corrida presidencial, quando, jogando para a plateia ensandecida, prometeu acabar com o PT e seus satélites ideológicos. O que mostra de forma clara a ameaça que sofre a democracia brasileira.

“Assumi o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica. Temos o compromisso de mudar nossa história”, disse o presidente Bolsonaro, que não tem moral para falar em crise ética e moral, pois passou anos a fio filiado ao Partido Progressista, uma das legendas fisgadas pela Operação Lava-Jato, sem jamais ter tomado alguma atitude para denunciar seus correligionários.

Em relação à situação econômica do País, Bolsonaro tenta vender o caos no afã de, mais adiante, surgir em cena como “salvador da pátria”, mas não pode ignorar o empenho do governo Temer para recolocar a economia nacional de pé. O atual presidente da República teve diversas oportunidades, como deputado federal, para condenar a política econômica do PT, mas preferiu endossar as decisões do seu outrora partido (PP), que à época era aliado do Palácio do Planalto.

“Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados. Honrando o compromisso de campanha, não aceitando ingerências político-partidárias que, no passado, apenas geraram ineficiência do Estado e corrupção”, emendou Bolsonaro.


O presidente tem garantido o direito de passar vergonha em qualquer lugar do planeta, mas faltar com a verdade diante de tantos investidores é transferir o vexame a dezenas de milhões de brasileiros que não lhe confiaram o voto. Falar em “equipe de ministros qualificados” é no mínimo galhofa, se considerado o fato que o governo estreou em meio a uma sequência de tropeços e recuos vexatórios.

“Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós. Aqui entre nós, meu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro”, ousou afirmar Jair Bolsonaro.

O presidente brasileiro de fato não tem bom senso. No governo há inúmeros integrantes acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e crimes correlatos, mas Bolsonaro arrisca posar como Don Quixote tropical contra os crimes decorrentes da atividade política.

Como se não bastasse, Bolsonaro continua ignorando o escândalo protagonizado por Fabrício Queiroz, que desde a última semana tem como coadjuvante o seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo Rio de Janeiro. De acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Flávio Bolsonaro depositou em sua conta bancária R$ 96 mil de forma fracionada, o que, na opinião das autoridades, sugere lavagem de dinheiro.

Ex-juiz federal e agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, citado por Bolsonaro em seu pronunciamento, também endossa a tese de que depósitos bancários fracionados são indícios de lavagem de dinheiro. No livro “Crime de Lavagem de Dinheiro”, de 2010, Moro afirma em determinado trecho: “Condutas dessa espécie visam evitar que as operações sejam comunicadas ao Coaf. A estruturação de transação com o fim de evitar uma comunicação ou sua identificação pelas autoridades é uma tipologia comum de lavagem e dinheiro”.

Resta saber se o Sérgio Moro que foi a Davos é o autor do mencionado livro ou é o que evita comentar o escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. No caso de ser o primeiro, Bolsonaro mentiu de forma acintosa aos investidores internacionais. No caso de ser o segundo, Bolsonaro precisa ser reconhecido como especialista em lavagem cerebral, pois Moro transformou-se na “fulanização” do embuste.