Como temos afirmado ao longo dos últimos meses, parte da opinião pública nacional está tomada por uma cegueira que a impede de enxergar o óbvio quando o assunto é política. Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República, não dono do Brasil, por isso não tem carta de alforria para fazer o que bem entender, nem seus erros podem ser justificados pelos muitos tropeços petistas. Até porque, essa defesa mostra não apenas desespero de quem não tem argumento, mas binarismo do pensamento.
Por mais que desperte paixões, política é um jogo bruto que tem sua lógica. Sendo assim, de nada adianta os bolsonaristas virarem as costas para a realidade, como se o presidente fosse uma divindade suprema que não pode ser alvo de críticas ou de análises realistas dos fatos.
Há dias, o UCHO.INFO afirmou que o recrudescimento do escândalo envolvendo Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro exigirá do presidente uma decisão difícil, que, a depender da escolha, poderá refletir no governo.
Como afirmamos, o presidente da República, para preservar o próprio mandato, não tem outra solução que não a de “atirar o filho aos leões”, deixando a Flávio Bolsonaro a responsabilidade por seus atos. Os seguidores de Bolsonaro, que mais parecem uma seita, se rebelaram de maneira intempestiva, alegando que estamos torcendo contra o governo e perseguindo o chefe do Executivo.
Cada um pensa o que quiser, inclusive na seara da abdução em que mergulhou, mas é preciso reconhecer que a Bolsonaro não restou outra opção, especialmente porque nos últimos dias cresceu a pressão dos generais palacianos sobre o presidente em relação aos seus filhos, que estão a comprometer o futuro do governo. Em suma, o Bolsonaro “queima” o filho, ou assume o risco de ver o escândalo subir a rampa do Palácio do Planalto.
Confirmando previsão deste portal, o presidente Jair Bolsonaro, em entrevista concedida à agência Bloomberg nesta quarta-feira (23), em Davos (Suíça), deu os primeiros sinais de que o filho terá de se virar sozinho no âmbito do escândalo que até outro dia tinha apenas o ex-assessor parlamentar como protagonista. “Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”.
A declaração do presidente, que pode ser fruto de conversas com integrantes do núcleo duro do governo, mostra que o senador eleito Flávio Bolsonaro está em um caminho sem volta. Se não provar a alegada inocência de forma clara e convincente, sua atuação no Senado será um tormento constante para o Palácio do Planalto, mesmo que o tempo cuide de diluir o impacto inicial de escândalos.
Diferentemente do que pensam os eleitores e apoiadores de Jair Bolsonaro, este noticioso, assim como seu editor, não torce contra o Brasil ou contra o presidente. Ao fazer jornalismo de forma crítica e incisiva, repetindo a atuação jornalística em governos anteriores, apenas alerta o atual ocupante da Presidência que é preciso cuidado na condução do País, pois ninguém pode, durante a campanha, apresentar-se como “salvador da pátria”, mas depois de eleito abusar do “faz de conta”.