Assessor que culpou jornalistas pelo cancelamento da entrevista de Bolsonaro em Davos é exonerado

O assessor de imprensa Tiago Pereira Gonçalves, que em Davos atribuiu ao comportamento da imprensa o cancelamento da entrevista coletiva que seria concedida pelo presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, foi exonerado pela Presidência na segunda-feira (28). A exoneração foi publicada no “Diário Oficial da União”.

Gonçalves trabalhava no Palácio do Planalto desde agosto do ano passado, no governo do então presidente Michel Temer. Antes, havia trabalhado como assessor de imprensa do deputado federal Vicente Cândido (PT-SP).

Durante o período eleitoral, Tiago Gonçalves publicou nas redes sociais diversas críticas ao atual presidente da República, tendo compartilhado um vídeo da campanha #EleNão, que reuniu artistas e eleitores contra o então presidenciável Jair Bolsonaro.

Na última semana, na Suíça, o assessor disse aos jornalistas que o cancelamento da entrevista coletiva se deu devido à “abordagem antiprofissional da imprensa”. No entanto, outra assessora do governo desmentiu a informação e disse que a decisão foi tomada porque Bolsonaro estava cansado por causa da agenda no Fórum.


A entrevista estava marcada para as 13 horas (horário de Brasília) da última quarta-feira (23), mas nenhum integrante do governo apareceu. Cerca de meia hora depois do horário previsto, a sala foi esvaziada pela organização do Fórum, sem que explicações fossem dadas aos jornalistas.

A assessoria de comunicação do presidente tentou organizar uma declaração de Bolsonaro antes do encontro bilateral com o premiê italiano, Giuseppe Conte, mas o presidente brasileiro se recusou, alegando falta de tempo. O ministro Paulo Guedes, da Economia, que também participaria da coletiva, tentou, sem sucesso, dissuadir o presidente.

Não é comum um chefe de Estado ou de governo faltar a entrevista coletiva em Davos, evento que é considerado uma “vitrine internacional” para investidores e países interessados em investimentos.

Após a repercussão do motivo do cancelamento, Gonçalves usou seu perfil no Twitter para reclamar da postura do repórter Lucas Neves, da “Folha de S.Paulo”, que o citou nominalmente em reportagem. O assessor de imprensa voltou ao lobby do hotel onde estava hospedado o presidente da República para tirar satisfações com os jornalistas, mas depois apagou a postagem na rede social.