Bolsonaro pressiona PF para solucionar caso Adélio porque teme desfecho desfavorável do Bolsogate

Internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia e a reconstrução do trânsito intestinal, o presidente Jair Bolsonaro, em vídeo divulgado nas redes sociais, abusou dos poderes que o cargo lhe confere ao cobrar da Polícia Federal uma solução rápida para o caso do ataque a faca de que foi vítima em 6 de setembro do ano passado, em Juiz de Fora (MG).

Bolsonaro, que ao cobrar a PF fez elogios à corporação, mais uma vez vinculou Adélio Bispo de Oliveira ao PSOL, apenas pelo fato de seu agressor um dia ter sido filiado à legenda. Que o presidente da República nutre ojeriza pela esquerda todos sabem, mas é preciso lembrá-lo que o Brasil ainda é uma democracia, de fato e de direito, e que ele governa para todos os brasileiros, sem qualquer distinção.

Isso posto, Jair Bolsonaro não pode sequer insinuar que o ataque que sofreu durante a campanha presidencial foi um ato político, pois até agora as investigações não apontaram qualquer indício nessa direção. Ademais, o presidente, talvez influenciado por terceiros nesse período de internação, insiste na tese de que Adélio agiu a mando de alguém, o que não ficou comprovado até então. Afirmar que existem mandantes do crime, sem provar, é obra do “achismo”.

A Jair Bolsonaro não cabe pressionar a PF, que é uma polícia de Estado, não de governo, pois a conclusão de uma investigação não pode atender aos interesses da autoridade máxima do País, mas aos ditames legais vigentes. Se Adélio Bispo já declarou em depoimento que agiu por conta própria, sendo que a PF não encontrou nenhuma prova que provasse o contrário, não será o presidente da República a mudar a realidade dos fatos.

A retomada da politização do ataque em Juiz de Fora surge no momento em que as investigações do caso envolvendo Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro detectaram milicianos como coadjuvantes do escândalo que tem tirado o sono do presidente da República. De igual modo, essa investida de Bolsonaro acontece simultaneamente à chegada de Marcelo Freixo (PSOL-RJ) à Câmara dos Deputados. Freixo, que era ligado à Marielle Franco, tem um discurso oposicionista concatenado e promete dar trabalho ao Palácio do Planalto.


Tanto Bolsonaro quanto Freixo sabem que se as investigações do “Bolsogate” avançarem na seara das milícias, muitas informações poderão mudar os rumos da política nacional. Não por acaso, os servidores que trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) – e coincidentemente repassaram valores em dinheiro a Fabrício Queiroz – estão desaparecidos desde a eclosão do escândalo.

Uma das desaparecidas, que trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro, é Raimunda Veras Magalhães, dona do restaurante Bairrada Adega Gourmet, no Rio de Janeiro, onde ela não aparece há meses, segundo seu sócio, Antonio Airton da Rocha. Coincidência ou não, Raimunda é mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que está com a prisão decreta por liderar milícia na comunidade de Rio das Pedras e encontra-se foragido.

Adriano Nóbrega, que é ligado a Fabrício Queiroz, conseguiu emplacar não apenas a mãe no gabinete de Flávio Bolsonaro, mas a esposa, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, que serviu ao agora senador por mais de uma década na Alerj.

Em 2007, Flávio Bolsonaro, ao discursar na Alerj, disse que “não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas”. Para o filho do presidente da República, “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.

A grande preocupação de Jair Bolsonaro em relação ao PSOL não é propriamente com Adélio Bispo de Oliveira, mas com o que a legenda poderá fazer no Congresso no âmbito do caso Marielle Franco. Isso porque Adriano Magalhães da Nóbrega é investigado por ser o principal articulador do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel suspeito de ter executado Marielle.