A falta de habilidade política do presidente Jair Bolsonaro e sua notória subserviência aos filhos devem prorrogar a crise que se instalou no Palácio do Planalto na esteira do episódio que tem na proa Gustavo Bebianno, secretário-geral da Presidência.
Submetido a um processo de “fritura” patrocinado por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, Bebianno buscou ao longo desta quinta-feira (14) uma saída honrosa para a crise, mas tudo indica que a solução está mais distante e difícil do que se imaginava. Isso porque Bolsonaro, que deveria comandar a busca pela solução, sequer atendeu Bebianno, como se estivesse endossando ainda mais a atitude bizarra e descabida do filho.
Os generais palacianos tentaram entrar em cena para evitar o pior, mas Jair Bolsonaro sequer atendeu aos telefonemas de Bebianno, dando a entender que não quer conversa com aquele que foi seu fiel escudeiro durante o processo eleitoral. Ou seja, Bebianno sabe demais e poderá causar considerável estrago caso saia desse imbróglio chamuscado e magoado.
A postura de Bolsonaro, que explica o comportamento dos filhos, demonstra sem qualquer sombra de dúvida que o convívio com Gustavo Bebianno tornou-se impossível depois da série de reportagens que aponta o repasse de verbas do fundo partidário para candidatas laranjas do PSL.
Que Bolsonaro luta para manter intacto o verniz da suposta ética todos sabem, mas é preciso que o presidente seja minimamente coerente, pois o ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, mais conhecido como Marcelo Álvaro, é acusado de repassar verba do fundo eleitoral a uma candidata fantasma à Câmara e exigir a devolução de quase 90% do total do recurso. Mesmo assim, o ministro, que é deputado federal pelo PSL mineiro, ainda não foi incomodado pelo presidente. Em outras palavras, o calvário de Bebianno é obra de Carlos Bolsonaro.
Ainda na seara da coerência, Jair Bolsonaro não pode destilar pílulas de falso moralismo, colocando Bebianno contra a parede, enquanto seu filho Flávio e o ex-assessor Fabrício Queiroz continuam impunes. Se o presidente da República quer mostrar à opinião pública que é movido pela justeza, que cobre das autoridades a elucidação do escândalo que tem na alça de mira Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Só não o faz porque sabe que o aprofundamento das investigações chegará ao “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel comandado pelo miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, que encontra-se foragido.
Para quem não se recorda, Adriano Magalhães da Nóbrega é ex-policial militar e um dos chefes da milícia que dá as ordens na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Por coincidência, a mãe e a esposa de Adriano trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Não por acaso, Adriano é próximo de Fabrício Queiroz, que após a divulgação do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), saiu de cena e procurou abrigo na comunidade de Rio das Pedras.