Bolsonaro usa “posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas”, afirmam OAB e Abraji

Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o ataque covarde de Jair Bolsonaro ao jornal “O Estado de S. Paulo” e à jornalista Constança Rezende na noite de domingo (10) não deixa dúvidas de que presidente vale-se do “descompromisso com a veracidade dos fatos” para blindar-se no cargo. Além disso, ambas as instituições ressaltam em nota que a postura antidemocrática de Bolsonaro caracteriza “o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas”.

No Twitter, o presidente, sem checar a veracidade das informações, endossou tese levantada pelo site “Terça Livre”, que falsamente atribuiu à jornalista Constança Rezende, do Estadão, a declaração de que teria “intenção” de “arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”.

A frase teria sido dita, segundo “denúncia” de um jornalista francês citado pelo “Terça Livre”, em conversa gravada em que Constança discorre sobre a cobertura jornalística das movimentações mais que suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do agora senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e amigo de longa data do presidente da República.

A gravação do diálogo demonstra que a jornalista não fala, em momento algum, em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com várias pausas, sendo que apenas trechos previamente selecionados foram divulgados pelo mencionado site. Em um dos trechos, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho à intenção de “arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”.

Editor do “Terça Livre”, Allan Santos publicou de forma seletiva um trecho da conversa, como evidência de suposta irregularidade. “Bomba!!!!! Jornalista do Estadão confessa: “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. Contudo, a frase jamais foi dita.

Bolsonaro, que durante 28 anos conseguiu a proeza de permanecer no “baixo clero” da Câmara dos Deputados por conta do seu pouco traquejo político e da sua conhecida irresponsabilidade, agora, na condição de presidente da República, abusa da leviandade, mesmo que de forma indireta, reverberando informações falsas publicadas por sites de aluguel. Para quem prometeu promover uma faxina ética no País, Bolsonaro é uma ode ao fiasco.


Confira abaixo a íntegra da nota conjunta da OAB e da Abraji:

“Na noite de domingo, o presidente Jair Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez valendo-se de informações falsas. Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão. Quando um governante mobiliza parte significativa da população para agredir jornalistas e veículos, abala um dos pilares da democracia, a existência de uma imprensa livre e crítica.

A onda de ataques no domingo começou antes da manifestação do presidente. Grupos que apoiam Bolsonaro difundiram e amplificaram nas redes sociais declarações distorcidas da repórter Constança Rezende, de O Estado de S.Paulo, para alimentar a narrativa governista de que a imprensa mente quando se refere às investigações sobre as movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro. Como é comum nesse tipo de ataque, a família de Constança também virou alvo. O grave nesse episódio é que o próprio presidente instigou esse comportamento, ao citar como indício de suposta conspiração que Constança é filha de um jornalista de O Globo.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se unem neste momento no repúdio a qualquer tentativa de intimidação de jornalistas. Profissionais atacados por fazer seu trabalho terão sempre nosso apoio.

Diretoria da Abraji

Felipe Santa Cruz – presidente do Conselho Federal da OAB

Pierpaolo Cruz Bottini – coordenador do Observatório de Liberdade de Imprensa do Conselho Federal da OAB”