Investida de embaixadora contra Jean Wyllys na ONU, em Genebra, foi “missa combinada” com o Itamaraty

O pífio espetáculo protagonizado na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na última sexta-feira (15) embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo não foi por acaso, muito menos uma defesa patriótica que a chefe da representação diplomática brasileira junto ao órgão fez do País.

Ao travar desnecessária e patética discussão com o ex-deputado federal Jean Wyllys, convidado da ONU para participar de painel sobre direitos humanos e autoritarismo, a embaixadora mostrou ao planeta que representa um governo antidemocrático e autoritário, que não aceita o contraditório. E sua incursão foi um simples cumprimento de script, devida e antecipadamente combinado com o Itamaraty.

Ao ser informada da participação de Jean Wyllys no mencionado painel, Maria Nazareth contatou a sede do Itamaraty. Em correspondência enviada a Brasília, a embaixadora sugeriu que fosse enviado ao evento um diplomata graduado, o que de chofre demonstra sua intenção de tumultuar o painel.

O que o governo brasileiro desconhecia é que a própria Maria Nazareth Farani Azevêdo estava disposta a enfrentar o ex-parlamentar, que, ao contrário das falácias destiladas pelos bolsonaristas nas redes sociais, não mentiu acerca do que ocorre no Brasil em termos de ameaças e cerceamento de liberdade.

Ao partir para o enfrentamento, logo após formular pergunta a Jean Wyllys, sem direito a tréplica (era a regra do debate), Maria Nazareth estava aparentemente defendendo a permanência em um cargo “dourado” da diplomacia brasileira. Afinal, atuar junto à ONU na bela e elegante Genebra com todas as despesas pagas e recebendo em dia um nababesco salário, até o mais desavisado sonha com isso.

Como Jair Bolsonaro está prestes a promover uma dança de cadeiras em pelo menos 35 postos da diplomacia brasileira mundo afora, quem está em cargos cobiçados quer garantir a própria permanência. Foi a impressão que Maria Nazareth passou no primeiro momento.

Contudo, a nauseante subserviência da embaixadora tinha um motivo ainda maior. Quando Bolsonaro estava escolhendo os integrantes do seu governo, Maria Nazareth Farani Azevêdo chegou a ser cotada para comandar o Ministério das Relações Exteriores, mas perdeu a vaga para o despreparado Ernesto Araújo. Como o chanceler está na corda bamba, Maria Nazareth quer continuar no páreo. E para isso parece não medir consequências.


A sabujice da embaixadora foi tamanha ao fazer a defesa do governo Bolsonaro, que em mensagem publicada no Twitter ela afirmou que Jean Wyllys vestia roupa vermelha. O que demonstra sua intolerância, seja por convicção, seja por subserviência interesseira.

Em 2012, a embaixadora, que já atuava junto à ONU em Genebra, posou para foto vestindo blusa vermelha, tendo ao fundo foto oficial da então presidente Dilma Rousseff. Ou seja, ou Maria Nazareth passou a nutrir ojeriza à mencionada cor desde então, ou suas preferências cromáticas variam de acordo com o interesse.

Quem é Maria Nazareth?

Conhecida como “Lelé”, o que pode não ser mera coincidência, Maria Nazareth é filha do falecido José Farani, outrora dono da Academia de Tênis, um dos um dos hotéis mais tradicionais e badalados de Brasília, situado às margens do Lago Paranoá, mas que acabou preso por sonegação fiscal em 2007. Segundo a filha, foi vítima de políticos corruptos, mas acabou preso por não ceder ao esquema.

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) condenou Farani pelo não pagamento de R$ 7 milhões em impostos, referentes ao período de 1992 a 1995. Na época, a Academia de Tênis tinha o título de entidade filantrópica, sem fins lucrativos, isenta do recolhimento de tributos.

Na investigação requerida pelo Ministério Público Federal (MPF), o juiz verificou que a Academia era um empreendimento comercial, esportivo e de lazer, com hotel de luxo, cinema e restaurantes. Por isso, tinha o dever de recolher impostos, assim como qualquer empresa do setor hoteleiro. José Farani renegociou a dívida com a Receita Federal, mas o acordo não anulou a decretação da prisão.

Casada com o também embaixador Roberto Azevêdo, alçado ao posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), “Lelé” foi chefe de gabinete do então chanceler Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores no governo do PT.

O fato de ter assessorado Amorim é motivo suficiente para Bolsonaro ejetar a embaixadora do posto que ainda ocupa na representação brasileira junto ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. O atual presidente da República, de forma equivocada, vem promovendo uma faxina ideológica no governo. Sendo assim, o “barraco” da última semana pode ter servido para nada.