Viagem de Bolsonaro a Washington foi uma trapalhada diplomática que serviu para fanfarronice ideológica

Não era preciso doses extras de massa cinzenta para saber que a viagem oficial de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, custeada com o suado dinheiro do contribuinte brasileiro, serviria para nada. Mesmo assim, entorpecido com a possibilidade de reunir-se com seu ídolo maior, o presidente Donald Trump, que também reza pela cartilha da bizarrice, Bolsonaro usou sua conta no Twitter para informar os devotos que o fato de a delegação verde-loura estar hospedada na Blair House representa enorme economia para o governo.

A viagem a Washington foi mais uma trapalhada com a rubrica de Ernesto Araújo, ministro de Relações Exteriores indicado ao cargo sem ao menos saber o que significa política externa. Os bolsonaristas podem espernear à vontade, mas o resultado da viagem de Bolsonaro aos EUA é prova inconteste da incapacidade do chanceler, que sequer tem gabarito para ser secretário consular.

Uma viagem como de Bolsonaro exige preparação e planejamento com muita antecedência, com direito a viagens de comitivas ao país a ser visitado para agendamento de encontros e organização de reuniões comerciais. O que se viu foi um desnecessário gasto de dinheiro público para viabilizar encontro meramente ideológico, em que o responsável pela desestabilização do governo brasileiro, Olavo de Carvalho, foi o centro das atenções.


Em jantar oferecido na embaixada brasileira em Washington, Jair Bolsonaro encontrou-se com lideranças da extrema direita norte-americana, o que em nada ajuda o Brasil, pois os problemas do País não são de ordem ideológica, mas econômica. Aliás, Bolsonaro, que insiste em levar adiante uma campanha que terminou em 28 de outubro de 2017, deveria se preocupar em governar, mas mantém o discurso contra o socialismo. Como se fosse possível eliminar a esquerda do cenário político brasileiro.

Em termos práticos, a visita de Bolsonaro a Washington só produziu resultados positivos aos EUA, uma vez que o Brasil autorizou os Estados Unidos a utilizarem a base de Alcântara (MA), suspendeu a necessidade de visto para americanos ingressarem em território brasileiro, deve derrubar nas próximas horas a barreira para a importação de trigo ianque. Ou seja, a ida de Jair Bolsonaro não ajudou o Brasil em termos de comércio bilateral nem na seara do agronegócio.

Em relação ao turismo brasileiro, que poderá se beneficiar com a suspensão da necessidade de visto para americanos, canadenses, japoneses e australianos entrarem n Brasil, o governo Bolsonaro terá de adotar uma série de medidas para que a medida realmente surta efeito. Além disso, a questão da segurança no País pode ser um entrave na tentativa de atrair turistas ao País. Até porque, ninguém está disposto a colocar a mão no bolso para se aventurar em um faroeste caboclo.

Em suma, ir à capital estadunidense serviu para Bolsonaro e seus aduladores reforçarem o utópico discurso nacionalista, além de mostrar, mais uma vez, subserviência à Casa Branca. Não obstante, ficou claro que o alinhamento automático da política externa brasileira aos Estados Unidos é uma operação suicida em todos os sentidos. E o Brasil há de pagar uma conta caríssima e em pouco tempo. Aguardem!