Bolsonaro insiste na tese equivocada de que o Congresso deve se colocar de joelhos diante do Planalto

Jair Bolsonaro continua delegando a terceiros os afagos ao Congresso Nacional, necessários para que a reforma da Previdência consiga apoio necessário para sua necessária aprovação. Depois de um final de semana marcado por troca de farpas cibernéticas com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro escalou alguns dos seus assessores para tentar um armistício, quando, na verdade, o movimento deveria ter sido protagonizado por ele próprio.

Com o Congresso em “pé de guerra” após Maia declarar que cabe ao governo buscar os votos necessários para a aprovação da reforma, o Palácio do Planalto destacou o porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, para anunciar a disposição do presidente de caminhar ao lado de deputados e senadores.

“O nosso presidente se coloca ao lado do Congresso para, juntos, caminhar em prol da aprovação da Nova Previdência – declarou, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. – Nós temos duas opções: aprovar a proposta da Previdência ou mergulharmos em um buraco sem fundo”, disse o porta-voz.

Reforçando a má vontade do governo de explicar à população de maneira detalhada a reforma, Rêgo Barros foi apelativo ao falar em “mergulhar em um buraco sem fundo”.


De acordo com o porta-voz, o presidente da República entende que “esse buraco sem fundo pode nos levar a uma desconstrução da sociedade”. “E isso nós não desejamos que aconteça”, acrescentou. E o governo tem “consciência” de que o Congresso não deseja que isso ocorra.

Esse comunicado mostra de maneira clara e inequívoca que o presidente não está disposto a qualquer diálogo com os parlamentares, que na sua opinião têm o dever de aprovar a reforma, sem direito a qualquer reivindicação.

Bolsonaro passou 28 anos na Câmara dos Deputados, sem ao menos aprender que o Parlamento é local de diálogo, não de imposições. O presidente erra ao apostar na tese de que o Congresso tem o dever de se colocar de joelhos diante do Executivo, como sinal de submissão e obediência. Esse pensamento foge às regras basilares da democracia e pode levar o País a uma situação mais grave do que a atual.

Ou o presidente da República ouve as vozes que emanam do Congresso, mudando seu comportamento, o que não significa aderir à chamada “velha política”, ou corre o risco de ter problemas sérios pela frente. O calvário de Fernando Collor de Mello começou exatamente no momento em que o então presidente decidiu ignorar os parlamentares.