Ainda o golpe do “sistema”

(*) Ipojuca Pontes

Antes de tudo, devo informar ao leitor que não retiro uma só palavra do que escrevi no artigo “Mourão, o sistema e o golpe”. De fato, o golpe (ou “autogolpe”, como queiram) já foi dado pelo diminuto grupo de generais da reserva que, aboletados no Palácio do Planalto, tutelam e procuram cercear os movimentos do legítimo presidente Jair Bolsonaro. Sim, é verdade, o boquirroto general Mourão ainda não se apossou, formalmente, do poder. Mas, claramente, se comporta como tal. De resto, previ que o “autogolpe” a ser desfechado contra Bolsonaro poderia demorar meses, pois, em geral, golpe de Estado contra um Presidente não se dá com o estalar de dedos. É preciso, antes, por exemplo, convencer a massa, por via da orquestração manipuladora dos fatos e, de quebra, intensificar o necessário jogo de desinformação e contra-informação – papel exercido ferozmente pelo ativismo da mídia amestrada.

(A propósito, convém salientar que, antes de Mourão, os candidatos ventilados para disputar a Vice-Presidência de República foram o Príncipe Luiz Felipe, fundador do movimento liberal “Acorda Brasil”, a advogada Janaína Paschoal, o senador Magno Malta e o general Augusto Heleno. Aqui, é preciso anotar que, nos bastidores, o “sistema” reviu o jogo por “motivos “estratégicos” e deslocou Heleno para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) ao tempo em que escalou o atrevido Mourão, visto pelo grupo como um “especialista em guerra psicológica”, para disputar a Vice-Presidência).

De fato, entrando em “combate”, o Mourão disse logo a que veio e, de imediato, começou a sabotar as propostas formuladas pelo candidato Jair Bolsonaro. O general, largando de lado a imagem do milico “linha dura” a defender a intervenção militar para solucionar conflitos, ou do oficial elitista que pretendia convocar uma Constituinte escrita por “comissão de notáveis” sem a participação de representantes e1eitos pelo povo, passou a atacar de forma abjeta, como se fosse um 5ª Coluna assumido, o projeto político do futuro Presidente. Nesta fase, se bem me lembro, contabilizou-se, em menos de 20 dias, cerca de 10 torpes contraditas do general de cabelos engraxados, a minar, de forma deliberada, a plataforma de mudanças assumida pelo presidenciável Bolsonaro junto aos eleitores destroçados pelos socialismos de FH, Lula, Dilma e Temer. Uma coisa de doido!

Por seu lado, ao perceber a postura desleal do general falastrão, reconhecendo nele um aliado capaz de defender dentro do governo a agenda “politicamente correta” da ONU terceiromundista, a mídia amestrada passou a incensá-lo. Juntou-se, então, a fome com a vontade de comer, e daí se deu uma estranha simbiose: da noite para o dia, o folclórico Mourão entrou célere na pauta da mídia esquerdista e viu-se transformado numa espécie de “popstar” iluminado, em especial nos órgãos das Organizações Globo, no momento, acionadas por sonegação pela Receita Federal.

Enquanto isso, dentro do governo, o “sistema” – composto por “boinas azuis” agrupados em missão da ONU terceiromundista – procura tutelar, a todo custo, o Presidente eleito. No cotidiano, o general Gustavo Heleno impõe marcação rígida. Aonde Bolsonaro vai, Heleno vai atrás. Mesmo sem ser convidado, como no caso do almoço oferecido por Rodrigo Maia aos presidentes dos três poderes. Agora mesmo, em Washington, durante a visita presidencial, se impôs como convidado a despeito de ter de encarar Olavo de Carvalho, tido como inimigo Nº 1 do diminuto grupo militar que ocupa o Palácio do Planalto. Para completar, foi Heleno, e não Bolsonaro, quem aprovou viagem à China comunista.

Querem outro exemplo de como se processa a tutela?

Recentemente Bolsonaro, quem sabe pressionado, declarou que a “democracia e a liberdade só existem quando as forças armadas querem”. De imediato, veio a reação midiática e não midiática. Então, para defender tal aleivosia, apareceu em vídeo a figura do general Heleno, tendo o presidente em segundo plano e em silêncio, para assegurar que a frase estava certa (“democracia e liberdade só com as forças armadas”) – o que nem sempre corresponde a verdade.

Aliás, em matéria de agressividade, Heleno bate o general Mourão. Na revista “Época”, de 18/03/19, em circulação, o repórter Guilherme Amado transcreve fala em que o desrespeitoso Heleno, ao saber a forma como Bolsonaro defendia sua plataforma conservadora, perguntou-lhe, de chofre: “Por que você fala tanta merda?”

Efetivamente, o general Heleno goza de bom conceito entre os pares, como registrou e-mail do leitor Altevir Stall, o que, no entanto, não impediu que ele fosse condenado, em 2013, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), por autorizar contratos ilegais que custaram de R$ 22 milhões aos cofres do governo.

Detalhando o fato, tanto a Revista Fórum quanto The Intercept (reportagem de Eduardo Goulart de Andrade, em 27/11/2018) informam que Heleno, quando chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia de Exército, assinou, irregularmente, dois convênios para a quinta edição dos Jogos Mundiais Militares ocorridos em 2011 no Rio de Janeiro, razão pela qual foi condenado pelo TCU a pagar multa de RS 4 mil. A seu favor, o general argumentou “que não tinha os conhecimentos necessários para avaliar a necessidade (de licitação) dos convênios assinados”.

O entorno não é tão florido. Em ampla reportagem do jornal espanhol “El País”, que trata de suspeitas de contratos irregulares (matéria assinada por Marina Rossi e Felipe Betim, em 07/08/2018), o coronel da reserva Rubens Pierrotti acusou o envolvimento do General Mourão, em denúncia que compõe dossiê de 1.300 páginas. Mourão negou, mas, pelo que se sabe, até agora não processou Pierrotti.

Entendo que a população brasileira deve ficar atenta ao que ocorre no País, ainda em crise. Se conseguimos no livrar de Lula, do PT e do socialismo corrupto por que vamos cair em nova esparrela totalitária?

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.

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