Bolsonaro contraria Paulo Guedes e já admite retirar regime de capitalização da reforma da Previdência

O brasileiro deve se preparar, pois a reforma da Previdência dificilmente acontecerá da forma como o governo alardeou por ocasião da entrega do projeto aos congressistas. Se a desastrada participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados foi um claro sinal de que a estratégia do Palácio do Planalto para o tema é frágil e equivocada, a declaração de Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (5) não deixa dúvidas a respeito.

Em encontro com jornalistas, o presidente da República admitiu que o regime de capitalização previdenciária, previsto na proposta enviada à Câmara dos Deputados, poderá ser retirado durante a tramitação do projeto. Isso significa que a desidratação da proposta corre o risco de ser muito maior do que o esperado.

“Se tiver reação grande, tira da proposta. Alguma coisa vai tirar, tenho consciência disso”, afirmou o presidente aos jornalistas presentes ao encontro.

Resta saber se com essa decisão o governo terá condições financeiras de arcar nos próximos anos com o pagamento das aposentadorias no regime de repartição, em vigência.


Por outro lado, não se pode descartar a possibilidade de o ministro da Economia deixar o governo, pois ele próprio disse, não faz muito tempo, que caso o projeto de reforma da Previdência não fosse aprovado em sua inteireza pediria demissão.

Se por um lado parlamentares que apoiam Bolsonaro são críticos ao regime de capitalização, por outro Guedes defendeu na CCJ disse que o modelo tem “princípios saudáveis”. Não é o que mostra a realidade previdenciária do Chile, por exemplo.

A questão não está em adotar o modelo de capitalização, mas em definir como o governo conseguirá pagar as aposentadorias durante o período de transição, já que os que ingressam no mercado de trabalho contribuem para custear os benefícios dos que já saíram.

Bolsonaro, sempre aproveitando qualquer oportunidade para criticar aquilo que não conseguirá solucionar, disse aos jornalistas que, mesmo não entendendo de economia, foram os economistas que “afundaram o Brasil”. Ora, se uma pessoa não entende de determinado assunto não pode palpitar.

“Minha sugestão é evitar mais dispositivos na PEC. Teto e tempo de serviço são mais importantes, o resto é depois”, disse o presidente da República.

Em suma, o que era esperado como grande evento do governo está fadado a ser a um projeto que dentro de alguns poucos anos terá de ser retomado para evitar nova quebradeira do Tesouro.