Bolsonaro fala em “céu de brigadeiro”, Guedes diz que o presidente “não é apaixonado pela reforma”

Se os políticos brasileiros, em sua maioria, saíram da fábrica com defeitos irreparáveis, um deles com certeza é a incapacidade de combinar o discurso com antecedência. E essa falha afeta representantes das mais distintas correntes ideológicas, não importando a hierarquia partidária ou o cargo ocupado nas esferas do poder.

Não é de hoje que o UCHO.INFO afirma que o presidente Jair Bolsonaro não demonstra qualquer apreço pela reforma da Previdência, assunto que em passado recente mereceu duras críticas de sua parte. Agora instalado no Palácio do Planalto, Bolsonaro, que deixou de ser pedra para transformar-se em vidraça, viu-se obrigado a enviar ao Congresso um projeto de reforma da Previdência para tentar equilibrar as contas públicas.

Mesmo assim, seu empenho em relação à reforma ainda não foi suficiente para convencer os parlamentares nem a opinião pública. Apesar disso, nesta quinta-feira (11), em cerimonia no Palácio do Planalto para comemorar os 100 primeiros dias de um (des)governo que ainda não mostrou a que veio, Jair Bolsonaro deu destaque especial à reforma da Previdência.

“Ressalto que além das 35 ações estipuladas, diversas outras estão sendo planejadas pelo Executivo, como a nossa proposta de uma Nova Previdência, que tem especial papel no equilibro das contas públicas e nos investimentos”, declarou o presidente.

Enquanto isso, em Washington, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em evento que até 1º de julho a reforma da Previdência será aprovada no Congresso Nacional. O que mostra que o “Posto Ipiranga” não entende de político, assim como desconhece o modus operandi do Parlamento federal.


Questionado sobre o esmaecido apoio de Bolsonaro à reforma da Previdência, principalmente nas redes sociais, o ministro da Economia não teve como fugir à verdade. Diante da plateia do evento organizado pelo Brookings Institute, Guedes foi obrigado a admitir que o presidente não morre de amores pela reforma.

“Bolsonaro está apaixonado pela reforma? Claro que não, mas entende que é importante”, respondeu Paulo Guedes, ressaltando que Bolsonaro “não é falso”.

“Políticos espertos não querem a reforma para discutir a um ano de eleição municipal”, emendou o ministro, que parece não ter levado aos Estados Unidos os argumentos adequados para responder perguntas sobre a reforma da Previdência. “Não se sintam preocupados e nem lamentem por nós. Estamos avançando”, completou o titular da Economia.

A desconexão entre o discurso de Guedes e o de Bolsonaro mostra o descompasso cada vez maior de um governo que parece não ter estreado, mas que busca encontrar um caminho para se livrar de letargia preocupante. Se esse caminho surgirá no horizonte é difícil afirmar, mas a incompetência do governo é inquestionável.

Se por um lado Paulo Guedes afirmava em Washington que por aqui o cenário não é de Alice no País das Maravilhas, por outro, no Palácio do Planalto o presidente Bolsonaro falava em “céu de brigadeiro”, quando na verdade temos tempestade contínua e mar revolto.

Sobre o fato de o presidente da República não ser falso, isso seria positivo se Jair Bolsonaro não estivesse no comando do País. À frente da Presidência e sabendo da importância e da necessidade da reforma da Previdência, o mínimo que cabe a Bolsonaro é se empenhar pela aprovação do projeto e a ele fazer declarações contínuas de amor, mesmo que falsas. Até porque, em jogo está o futuro da economia do País e a vida de mais de 200 milhões de brasileiros. Se isso não é motivo suficiente para encenar, que fechem o Brasil para balanço.