Acordo entre governo e caminhoneiros para evitar greve contraria livre concorrência defendida por Guedes

As atitudes do governo em relação aos caminhoneiros destoam dos discursos do ministro Paulo Guedes (Economia) e de sua equipe, que defendem abertamente o liberalismo econômico. Após reunião de quatro horas com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, representantes dos caminhoneiros concordaram com a proposta do governo de repassar à tabela de frete as variações no preço do óleo diesel.

“Construímos em conjunto agenda de trabalho que envolve eliminação de multas injustas, transferência do custo do diesel para tabela de frete, fiscalização dessa referência de custo e termo de compromisso com entidades representantes para tornar a fiscalização mais efetiva”, informou, em nota, o ministro.

A estratégia do governo contraria a tese da livre concorrência, defendida pela equipe comandada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia. A imposição da tabela de frete também contraria os interesses do agronegócio, um dos setores mais importantes da economia e que teve participação preponderante na campanha de Jair Bolsonaro.

Além disso, a imposição da tabela de frete, cujo não cumprimento poderá render multa às empresas embarcadoras de cargas, dificultará o mercado de transporte, incentivando as transportadoras a comprarem caminhões, em detrimento da contratação de transportadores autônomos.


Ademais, a exigência de cumprimento da tabela de frete mínimo fará com que os preços dos produtos sejam majorados, comprometendo os índices de inflação. Se a economia brasileira está parada por conta de uma crise que assusta cada vez mais os brasileiros, o acordo entre caminhoneiros e o governo pode piorar o cenário.

A opção da tabela de frete mínimo surgiu ainda no governo Temer, quando os caminhoneiros deflagraram greve e pararam o País por alguns longos dias, causando sérios danos à economia nacional. Os caminhoneiros reclamam da falta de condições dignas de trabalho, mas a situação atual é reflexo da equivocada política econômica adotada pelo PT, em especial pela então presidente Dilma Rousseff.

Após Lula reduzir o IPI incidente sobre veículos, como forma de estimular a economia e enfrentar a crise de 2008-2009, Dilma decidiu subsidiar a compra de caminhões e ônibus com linha de financiamento com taxa de juro de 4% ao ano, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com a facilidade de financiamento, aumentou rapidamente o número de caminhões no País, sem que a quantidade de carga a ser transportada tivesse acompanhado essa evolução na mesma proporção.

Com excesso de oferta de transporte e pouca demanda, forçar o mercado a cumprir a tabela de frente contraria as mais básicas regras econômicas. Essa receita tem ingredientes de sobra para, ao final, dar errado, mas por enquanto o governo conseguirá evitar uma greve no curto prazo. O grande desafio dos integrantes do governo continua sendo encontrar uma saída que atenda os interesses dos caminhoneiros e não puna a população. Até agora ninguém teve competência para tal.