Portugal inaugura memorial em homenagem a presos da ditadura

Portugal celebra nesta quinta-feira (25) o 45.º aniversário da Revolução dos Cravos, que em 1974 pôs fim a quatro décadas da ditadura salazarista do Estado Novo.

Além das inúmeras atividades culturais, um dos destaques é a inauguração de um memorial em homenagem aos presos políticos da ditadura, na Fortaleza de Peniche, que fica na península de mesmo nome, a cerca de 100 quilômetros de Lisboa.

A Fortaleza de Peniche foi uma prisão emblemática do regime ditatorial e abriga desde 2017 o Museu Nacional da Resistência e Liberdade, cuja inauguração oficial ocorrerá neste sábado, dia da libertação dos presos, em 1974. No local ficará também o memorial com os nomes de 2.500 presos políticos que lá estiveram encarcerados entre 1934 e 1974.

Construída no século 16 e usada como prisão pela ditadura, a Fortaleza de Peniche é hoje um testemunho do que foi a repressão nas prisões do regime fascista e também da luta pela liberdade e pela democracia em Portugal, afirma o governo socialista.

Por muito pouco ela não virou um complexo turístico, com hotel e restaurantes, mas a oposição de grupos de perseguidos pela ditadura mudou o destino do local. A pressão fez o governo ceder e decidir investir 3,5 milhões de euros para transformar o forte num museu da resistência à ditadura.

Além do memorial, será inaugurada nesta quinta-feira uma exposição, chamada “Por teu livre pensamento” e que revisita acontecimentos da ditadura a partir das memórias de quem esteve preso em Peniche e agora é homenageado no local.

Vários antigos presos participarão da inauguração, e um grupo de sobreviventes colaborou para a elaboração da mostra, que inclui objetos pessoais dos detentos, fotos, recortes de jornal e documentos.


História

A Revolução dos Cravos foi o desfecho de uma situação que começou muitos anos antes, com movimentos de independência das colônias portuguesas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a colonização passou a ser vista como um atentado à liberdade dos povos, e esforços internacionais passaram a ser feitos no sentido de forçar Portugal a conceder independência aos seus “territórios ultramarinos”.

Com a entrada de Portugal na Organização das Nações Unidas em 1955, a situação complicou-se ainda mais, dando início a uma polêmica diplomática que seguiria até o ano de 1974.

A partir de 1961, o que era uma batalha diplomática se transformou em guerrilhas separatistas nos territórios coloniais, com inúmeras revoltas e atos de terrorismo. Em Angola, a guerrilha começou em 1961; na Guiné, em 1963; e em Moçambique, em 1964.

Mesmo com grande esforço militar, as baixas portuguesas durante as Guerras Coloniais foram enormes, considerando-se a população do país (menos de 9 milhões de habitantes à época). Foram cerca de 10 mil soldados mortos e 20 mil feridos com sequelas, sem contar mais de 100 mil homens com estresse pós-traumático.

Com tantas baixas e uma população insatisfeita, os efeitos das Guerras Coloniais tiveram relação direta com o fim da ditadura em Portugal. As pressões não eram mais apenas internacionais. Internamente, o país enfrentava uma população hostil diante da guerra e do militarismo.

Mas foi do Exército que partiu o movimento que acabaria definitivamente com a ditadura. À meia-noite do dia 25 de abril de 1974, os soldados saíram dos quartéis, tomaram as ruas de Lisboa e exigiram a deposição de Marcello Caetano, então presidente do Conselho do Estado Novo.

Naquela noite, a população distribuiu cravos em forma de agradecimento aos soldados rebeldes. A imagem dos militares com cravos nas armas ficou na memória dos portugueses como o símbolo de uma revolução sem violência.

Os rebeldes instituíram uma Junta de Salvação, responsável por fazer a transição do regime e dar fim às instituições ditatoriais, como a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide) e a censura.

Dias após a revolta, líderes dos partidos de oposição, como Mário Soares (Partido Socialista) e Álvaro Cunhal (Partido Comunista), voltaram do exílio. A música que embalou a Revolução dos Cravos foi “Grândola, Vila Morena” (você confere abaixo), de autoria de Zeca Afonso. (Com agências internacionais e ABr)