Bolsonaro escancara essência autoritária ao determinar a retirada do ar de campanha do BB

O Brasil enfrentava as muitas promessas dos candidatos presidenciais na campanha de 2018 quando o UCHO.INFO afirmou que uma eventual vitória de Jair Bolsonaro nas urnas levaria o País rumo ao retrocesso e ao obscurantismo. Os apoiadores de Bolsonaro, abduzidos pelo discurso fácil e recheado de ódio, só conseguiam rebater as críticas com frases feitas e sem nexo, como, por exemplo, afirmando que os críticos torciam pelo pior.

O tempo passou e Jair Bolsonaro não precisou sequer de quatro meses para provar aos incautos que o pior ainda está por vir. Sem ter como entregar aos eleitores tudo o que prometeu durante a campanha, o atual presidente insiste em manter o palavrório virulento como forma de manter o apoio daqueles que creem ser a discórdia a chave do sucesso. O que explica os seguidos entreveros envolvendo integrantes do governo e os filhos, episódios quixotescos que distraem a opinião pública.

Enquanto essa ópera bufa avança, Bolsonaro coloca em prática um plano totalitário que começa a preocupar quem viveu a era plúmbea e não consegue esquecer os tempos de supressão de liberdade. A mais recente bizarrice presidencial surgiu em meio à decisão de determinar a retirada do ar de campanha do Banco do Brasil e imediata demissão do diretor de marketing da instituição financeira, Delano Valentim.

Acatando ordem expressa de Bolsonaro, o presidente do BB, Rubens Novaes, mandou retirar do ar campanha publicitária destinada ao público jovem, com atores que representavam a diversidade racial e sexual.

No ar desde o início de abril, a propaganda do BB foi suspensa no último dia 14, logo após Jair Bolsonaro ter assistido ao filme, em que os atores são quase todos jovens – há mulheres e homens negros, sendo uma das personagens transexual. Muitos dos que aparecem no filme têm tatuagens e cabelos coloridos.


O presidente do BB declarou, oficialmente, que foi “uma decisão de consenso”, mas pessoas que acompanharam as discussões sobre o tema afirmam que Novaes sequer tinha visto a campanha até a ligação de Bolsonaro.

Desde que assumiu o comando do Banco do Brasil, Rubens Novaes definiu juntamente com as equipes de marketing e de tecnologia um plano para atrair clientes mais jovens, com linguagem contemporânea e serviços via internet, com condições de concorrer com as chamadas fintechs. Atualmente, as fintechs representam séria ameaça aos grandes bancos, em especial porque têm no público mais jovem seu maior nicho.

O Brasil está paralisado por conta das questões econômicas, que continuam reféns da reforma da Previdência, mas Jair Bolsonaro prefere perder tempo com assuntos menores e importância relativa, como, por exemplo, discussões vazias sobre temas ideológicos e veto a campanhas publicitárias.

O País caminha a passos largos na direção do totalitarismo, sem que a maioria da sociedade perceba o perigo que isso representa, mas parte da população continua encarando esse movimento de Bolsonaro como algo necessário para salvar a democracia. Quando alguém obcecado por torturadores repentinamente passa a falar em democracia e a defender a imprensa, o melhor a se fazer é redobrar a cautela. Até porque, atualmente não há mais espaço para a versão romântica (sic) dos ditadores de outrora.