De empregador de funcionários fantasmas a falso Don Quixote contra corrupção, a saga de Jair Bolsonaro

Na última vez que filiou-se ao Partido Progressista (PP), Jair Bolsonaro, hoje presidente da República, permaneceu na legenda durante longos onze anos. Nesse período – 2005 a 2016 -, o PP envolveu-se em rumorosos escândalos de corrupção, como, por exemplo, o Mensalão do PT e o Petrolão.

Apesar disso, Bolsonaro conseguiu vencer a corrida presidencial de 2018 a reboque do discurso embusteiro de combate à corrupção. Alguém pode alegar que o presidente em momento algum se envolveu em escândalos de corrupção, mas o simples fato de ter silenciado diante de crimes continuados no lhe dá direito de falar em combate ao crime que assusta os brasileiros e vem derretendo o País nas últimas décadas.

Caso legislação brasileira contemplasse o crime de conspiração contra o Estado, como acontece nos Estados Unidos, Bolsonaro e milhares de políticos estariam atrás das grades. Afinal, ter ciência de um crime e não denunciá-lo às autoridades é tão grave quanto.

Durante seu último mandato como deputado federal, Jair Bolsonaro não fugiu à regra reinante no Congresso – há exceções – e empregou pelo menos cinco assessoras que jamais deram o ar da graça na Câmara dos Deputados, de acordo com documentos obtidos pela Pública.

O escândalo fica patente diante do fato de as tais secretárias jamais terem solicitado à Câmara a emissão de crachás de funcionárias. E sem esse documento fica impossível acessar as dependências do Legislativo. Elas poderiam ter se registrado com visitantes, mas isso também não ocorreu, pelo menos de 2015 até janeiro deste ano. Em outubro de 2016, os salários dessas fantasmagóricas secretárias variaram de R$ 1.023 a R$ 4.188.


Em 2016, o gabinete de Bolsonaro empregou 22 assessores, de acordo com registros da Câmara dos Deputados. Os documentos obtidos via Lei de Acesso à Informação comprovam que cinco ex-secretárias não tinham credencial de funcionária da Casa legislativa, três possuíam o documento e em dois casos não houve resposta.

Entre 2015 e 2019, período da última legislatura, o Sistema de Identificação de Visitantes da Câmara não registrou uma só entrada das cinco ex-funcionárias de Bolsonaro, que ninguém jamais viu circulando pelo Legislativo.

As ex-assessoras – sem crachá nem registro de visitantes – são: Bárbara de Oliveira Ferraz, 34 anos; Denise Marques Felix, 61 anos; Patrícia Cristina Faustino de Paula, 31 anos; Dulcineia Pimenta Peixoto, 59 anos; e Mirian Melo Lessa Glycério de Castro, 43 anos. As três primeiras (Bárbara, Denise e Patrícia) trabalharam com Bolsonaro na Câmara dos Deputados por mais de uma década. Já Dulcineia e Mirian foram empregadas do capitão durante sete anos. Todas foram exoneradas entre 2016 e 2018.

Assessores podem trabalhar em Brasília ou nos estados de origem dos parlamentares, desde que cumpram sua carga horária, cujo controle deve ser feito pelo próprio deputado. Essa prática não é ilegal, mas a família Bolsonaro tornou-se especialista em funcionários fantasmas.

Os aduladores do presidente da República dizem que as matérias envolvendo seu nome têm o objetivo de derrubá-lo do cargo, mas é preciso lembrar que Bolsonaro não precisa da ajuda de terceiros para permanecer em tempo integral na berlinda. Sua incompetência é suficiente para garantir essa situação que certamente daria inveja a protagonistas de filme de ação.