Protestos contra cortes na Educação aumentam desgaste de um governo trôpego em termos políticos

O objetivo de Jair Bolsonaro não governar e resolver os muitos problemas do País. É, na verdade, colocar em marcha o revanchismo ideológico e liquidar a esquerda, como se a democracia pudesse caminhar com uma só perna. Quem espera do atual presidente uma lufada de bom senso democrático, o melhor é rever i pensamento, pois a chance de isso acontecer é nula.

O melhor exemplo dessa perseguição ideológica está no Ministério da Educação, pasta por onde passam as soluções para todos os problemas que afligem os brasileiros, mas que Bolsonaro prefere tratar como uma máquina de catequização direitista.

Ao substituir o ministro Ricardo Vélez Rodríguez por Abraham Weintraub, o presidente trocou um colombiano por um brasileiro tutelado, mas manteve o caos no mesmo patamar. Afinal, o ministério continua sendo palco de bizarrices técnico-ideológicas capazes de assustar o mais neófito em temas educacionais.

Ao afirmar, semanas atrás, que cortaria 30% dos recursos de três universidades federais por conta de “balbúrdias”, Weintraub criou uma zona de beligerância com a comunidade acadêmica, que acabou crescendo com a declaração do presidente da República de que é preciso investir em cursos que proporcionem retorno financeiro imediato ao cidadão. Ou seja, o governo declarou guerra à área de Humanas, não por questões econômico-financeiras, mas por razões ideológicas.

Como ambas as declarações causaram sérios danos ao governo, a saída foi recorrer a um remendo de ocasião e anunciar que o corte de verbas seria linear, ou seja, 30% menos recursos para todas as universidades. Mas o cenário piorou porque apenas os recursos destinados às despesas discricionárias podem sofrer cortes.


Diante dessa sequência de imbróglios, o ministro Abraham Weintraub decidiu apelar ao didatismo tosco para tentar explicar o inexplicável. Ao lado de Bolsonaro, o ministro usou chocolates para explicar o corte nos recursos destinados à Educação. E como disse certa feita o poeta português Manuel Maria Barbosa de Bocage, a “emenda saiu pior do que o soneto”.

Desgastado por assustadora inoperância, mas explicada pela incompetência dos seus integrantes, o governo, que vem colecionando derrotas previsíveis, tornou-se alvo nesta quarta-feira (15) dos primeiros grandes protestos de rua. Em pelo menos 250 cidades brasileiras, manifestantes saíram às ruas para protestar contra o corte de recursos destinados à Educação.

Como se não bastasse o cenário desfavorável, o presidente Jair Bolsonaro, logo após desembarcar em Dallas (Texas), disse que a maioria dos manifestantes era de “idiotas úteis” e “imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra”. Foi o suficiente para o movimento se alastrar como rastilho de pólvora.

Os protestos ocorreram ao mesmo tempo em que o ministro Abraham Weintraub participava de uma audiência (Comissão Geral) no plenário da Câmara dos Deputados, onde foi obrigado a dar explicações sobre o corte de verbas e ouvir duras críticas de oposicionistas e aliados do governo.

Apoiadores e aduladores de Jair Bolsonaro foram às redes sociais para, voltando no tempo, informar que a então presidente Dilma Rousseff também promoveu cortes nos recursos destinados à Educação, mas essa estratégia é típica de quem não tem argumentos e recorre à “síndrome do retrovisor”.

Há muito que o UCHO.INFO alerta para o fato de que a incompetência e a destemperança de Bolsonaro servirão como tábua de salvação para a esquerda nacional. O que aconteceu nesta quarta-feira foi o primeiro teste. E bem-sucedido, é preciso reconhecer. Que o presidente da República não desdenhe o que aconteceu no País na esteira dos desacertos na Educação, pois o calvário político de Fernando Collor começou da mesma maneira: com estudantes nas ruas.