Crime cometido por hacker não serve para amenizar ilegalidades cometidas por Sérgio Moro e Dallagnol

Um crime não justifica o outro. Eis um pensamento lógico que parte da opinião pública nacional está deixando de lado para não ver a realidade como ela é. A alegação de que contra corruptos tudo vale é igualar a Justiça aos criminosos, como se a régua que mede ambos fosse a mesma.

Esse introito serve para esclarecer que o hacker que invadiu os celulares do ministro Sérgio Moro (Justiça) e de integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba agiu criminosamente, portanto deverá responder por seus atos de acordo com o que prevê a legislação em vigor.

Por outro lado, não se pode fechar os olhos para as ilegalidades cometidas por Moro e Deltan Dallagnol, que combinaram resultados de investigações e condenações, ferindo o Código de Processo Penal e a Constituição Federal. Quando o UCHO.INFO afirmava que Sérgio Moro foi equivocadamente alçado ao panteão dos heróis, a escumalha revanchista insurgia-se com ofensas das mais variadas, como faz agora.

É extremamente perigosa e preocupante a forma como a sociedade está a tratar a divulgação de diálogos entre Moro e Dallagnol por meio de aplicativo de mensagens – o caso foi batizado como “Vaza-Jato” –, pois cria uma exceção à regra legal e constitucional que pode se transformar em baliza para outros casos. Considerando que o governo atual é dado aos rompantes totalitaristas, o melhor é defender a legalidade e repudiar o vale tudo.

Demonizar a imprensa sempre foi a solução mais fácil e rápida em momentos de crise política. E no caso da “Vaza-Jato” não poderia ser diferente. É preciso separar o hacker que invadiu os smartphones do veículo de comunicação que divulgou as comprometedoras mensagens trocadas entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.


A ordem do dia, pelo menos nas redes sociais, é cobrar a extradição do jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept, que divulgou as mensagens. No momento em que a sociedade defende o descumprimento da lei apenas e tão somente porque é preguiçosa politicamente, cobrar a expulsão do País de um jornalista não assusta, mesmo sendo a cobrança um absurdo sem tamanho.

O papel da imprensa é fundamental na democracia e os jornalistas não podem ser tratados de acordo com os interesses do momento. A verdade precisa ser revelada, não importando quem seja o alvo, sob pena de se instalar no País um Estado paralelo que atenta contra o Estado de Direito. E quando isso acontecer, o caminho será sem volta.

Quando o UCHO.INFO divulgou as gravações do caso Celso Daniel, a extensa maioria da sociedade não se insurgiu contra o nosso trabalho, pois interessava ver revelada a farsa capitaneada pelo PT em Santo André, cidade do Grande ABC. Apenas os petistas se rebelaram, inclusive recorrendo a ameaças por meio de advogados renomados e ações na Justiça que culminaram com a retirada temporária do ar do portal de notícias. É preciso isonomia diante dos fatos, pois democracia não pode pender para um lado ou outro.

Faz-se necessário comparar o caso em questão com o escândalo da Máfia da Loteria Esportiva. Em 22 de outubro de 1982, a revista Placar publicou excelente reportagem do jornalista Sérgio Martins, que desvendou um esquema criminoso que fabricava resultados no âmbito de partidas de futebol. À época, o País ficou estarrecido, possivelmente porque o que fora revelado pelo competente Sérgio Martins mexeu no bolso de muitos incautos apostadores.

O caso envolvendo Moro e Dallagnol é semelhante e deveria causar a mesma indignação, mas o brasileiro está tomado pela peçonha do revanchismo político e dominado pela vingança ideológica. Se o objetivo dessa porção da sociedade é evitar o retorno da esquerda ao poder, o melhor caminho é defender o estrito cumprimento da lei, pois do contrário o culpado se transformará em vítima.