A essência tirana de Jair Bolsonaro, o presidente da República, consolida-se cada vez mais como clara ameaça à democracia brasileira. Sem aceitar o contraditório, Bolsonaro chega facilmente ao descontrole quando contrariado por qualquer integrante do governo, mesmo que dados incontestáveis provem que ele está errado.
Enxergando questões ideológicas em todos as questões, Bolsonaro não demora muito para criar frentes de conflito, pois essa é a única maneira de afagar a parcela da sociedade continua lhe dedicando apoio incondicional, não importando as estultices que descem a rampa do Palácio do Planalto diariamente.
A mais nova polêmica oficial envolve a divulgação de dados sobre o desmatamento na Amazônia, questão que o presidente da República alega ser uma tentativa de desmoralizar o Brasil no cenário internacional. Sem ter como cumprir as muitas promessas de campanha, Bolsonaro faz da radicalização do discurso e das atitudes a forma derradeira de permanecer no poder, até o momento em que o Parlamento decidir virar o jogo.
Nesta segunda-feira (5), o presidente voltou a mencionar os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como se o órgão se empenhasse em franquear à opinião pública informações inverídicas sobre o desmatamento.
Três dias após a exoneração de Ricardo Galvão, diretor do Inpe, o presidente voltou a recorrer à teoria da conspiração para justificar suas atitudes. “A Amazônia é um potencial incalculável. Por isso, o mundo está de olho nela. Por isso alguns brasileiros ousam em fazer campanha com números mentirosos sobre nossa Amazônia”, disse Bolsonaro. “E nós temos que vencer isso, e mostrar para o mundo, primeiro, que o governo mudou e, depois, que nós temos responsabilidade para mantê-la nossa, sem abrir mão de explorá-la de forma sustentável”, completou.
Bolsonaro continua acreditando que apenas o Inpe consegue registrar por satélite dados sobre o desmatamento na Amazônia, o que não é verdade. Pior do que agir de forma totalitarista no caso do Inpe é querer camuflar os dados sobre o desmatamento. É preciso compreender que a balança comercial brasileira é dependente do agronegócio, que por sua vez não pode fechar os olhos para a preservação do meio ambiente, uma vez que a certificação ambiental é uma das exigências no comércio internacional quando o assunto é compra de produtos agrícolas.
Como o presidente tornou-se refém dos ruralistas, que sonham o tempo todo em devastar o meio ambiente a qualquer preço, a postura de Bolsonaro tende a piorar com o passar dos dias. Para dar guarida a esse discurso utópico e irresponsável, o presidente instruiu todos os ministros e assessores sobre a necessidade de se manter a mentira em marcha.
Na manhã desta segunda-feira, em entrevista à rádio Eldorado, o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse que toda a polêmica teria sido evitada caso o diretor do Inpe tivesse buscado o diálogo.
“Se o Galvão tivesse me procurado após os comentários de Bolsonaro, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa gerou perda de confiança”, afirmou Pontes.
O objetivo de Bolsonaro é claro e não deixa dúvidas de que a ordem do dia é fingir que o desmatamento na Amazônia é muito menor do que o anunciado. Se o mote palaciano é enganar a comunidade internacional, colocando em risco diversos acordos comerciais, a começar pelo que tem protagonistas a União Europeia e o Mercosul, o caminho escolhido pelo presidente da República é o mais acertado.