Em nova demonstração de revanchismo de Bolsonaro, Petrobras cancela contrato com Felipe Santa Cruz

Por mais que o mundo tenha açambarcado os avanços advindos da tecnologia e suas múltiplas reticências, Jair Bolsonaro é aquele ditador clássico que nos dias de hoje servem apenas como enredo de grandes produções cinematográficas. Mesmo assim, para dar vazão à sua sanha persecutória, o presidente da República usa o Estado como sabre para atingir adversários ideológicos e adversários de ocasião. Situação que por sai só deveria despertar a preocupação da parcela de bem da sociedade.

Depois de atacar covardemente a memória de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, o chefe do Executivo federal foi avisado do estrago de suas declarações, mas recuar, reconhecendo o erro e pedindo desculpas, representa muito para quem é movido pela pequenez.

Interpelado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido de Felipe Santa Cruz, para que explique suas declarações sobre Fernando Augusto e detalhe o que sabe sobre o desparecimento do pai do dirigente da OAB, Bolsonaro afirmou que apenas disse o que ouviu nos tempos da ditadura militar e concluiu ao longo do tempo com base no seu conhecimento.

Bolsonaro era um reles candidato à aspirante na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Rezende (RJ), quando Fernando Santa Cruz foi preso pelo regime militar e em seguida desapareceu. Isso significa que o agora presidente da República não tinha, à época, cabedal ou relacionamento que lhe permitisse receber informações sigilosas do regime.

Contestado por documentos oficiais da Marinha e da Aeronáutica, pelo depoimento de um ex-delegado do DOPS à Comissão Nacional da Verdade e pelo atestado de óbito que nos próximos dias será entregue à família Santa Cruz, Bolsonaro não suportou o vexame a que foi submetido e por isso determinou retaliações ao presidente nacional da OAB.


Nesta terça-feira (6), o escritório de advocacia de Felipe Santa Cruz foi informado da decisão da Petrobras de cancelar unilateralmente um contrato de prestação de serviços, decisão que deixa claro o desejo de Bolsonaro de retaliar o dirigente maior da OAB.

O escritório de Felipe Santa Cruz representava os interesses da Petrobras no âmbito da Justiça do Trabalho e proporcionou à estatal petrolífera, em 2018, uma vitória no TST, mesmo que apertada (6 a 5), em ação judicial que pleiteava o pagamento de R$ 5 bilhões referentes a horas extras atrasadas aos funcionários embarcados em plataformas marítimas.

“Era uma ação rescisória, algo como ressuscitar alguém que morreu. Eu salvei a empresa na causa trabalhista mais grave que ela já enfrentou”, afirmou à jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o advogado Felipe Santa Cruz, que promete entrar na Justiça com ação de perdas e danos. “Há claramente uma perseguição política em curso”, disse Santa Cruz.

Quando o Estado e seus penduricalhos são usados por um ocupante do poder para retaliar adversários ideológicos, é porque a democracia e o Estado de Direito estão sob grave ameaça.

O entrevero entre Bolsonaro e Felipe santa Cruz surgiu na esteira do inconformismo do presidente da República em relação à decisão da OAB de ingressar na Justiça para impedir a quebra dos sigilos fiscal e bancário do advogado que defendeu Adélio Bispo, que em 6 de setembro de 2018 desferiu uma facada no então presidenciável do PSL.

Ou os brasileiros de bem reagem a esse movimento que pode culminar com um “cavalo de pau” na democracia, ou a sociedade aceita a ideia de que o País está sendo transformado lentamente em uma ditadura.