Não basta ser estúpido, é preciso escancarar a estupidez todos os dias. Movido pelo revanchismo ideológico, até porque nada lhe sobra além disso, o presidente Jair Bolsonaro não dá trégua à verborragia insana, nem mesmo quando pé preciso moderar o palavrório para não prejudicar o Brasil.
Sem perceber que suas desastradas declarações são prejudiciais ao presidente da Argentina, que tenta a reeleição, Bolsonaro insiste em atirar contra o candidato kirchnerista Alberto Fernández, que tem como como companheira de chapa a senadora Cristina Kirchner.
Em mais um dos seus conhecidos destampatórios, Jair Bolsonaro afirmou, em discurso no Piauí, que “os bandidos de esquerda começam a voltar ao poder” na Argentina. Tosco e irresponsável, o comentário faz referência ao resultado das eleições primárias no país vizinho, que, segundo analistas políticos internacionais, apontam para uma vitória, em primeiro turno, da chapa Fernández-Kirchner.
“Olha o que está acontecendo com a Argentina agora. A Argentina está mergulhando no caos. A Argentina começa a trilhar o rumo da Venezuela, porque, nas primárias, bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder”, disse o presidente em Parnaíba, no Piauí, onde participou de cerimônia de lançamento de um projeto de irrigação.
Bolsonaro afirmou que, nas próximas eleições, a “turma vermelha” será varrida do Brasil. O presidente aproveitou para, mais uma vez, acusar governadores do Nordeste de apostarem na divisão do País, o que é uma sonora inverdade.
“Nas próximas eleições vamos varrer essa turma vermelha no Brasil”, completou. Ele afirmou que vai mandar os “esquerdistas para Cuba ou Venezuela”: “Vamos mandar essa turma pra lá, Venezuela, já que lá tá bom, vão pra Cuba, lá deve ser muito bom também”, declarou Bolsonaro.
“Quando a gente vê agora pelo Brasil alguns governadores querendo separar o Nordeste do Brasil, esses cabras estão no caminho errado. O caminho do Brasil é um só: um só povo, uma só raça, uma só bandeira verde e amarela”, disse o irresponsável presidente.
Aparentemente vivendo uma fase anal, o que enseja busca por ajuda médica, Bolsonaro, pela terceira vez na semana, recorreu à palavra “cocô” para turbinar a fala insana. “Vamos acabar com o ‘cocô’: comunistas e corruptos”, disse, em um palco montado no aeroporto de Parnaíba.
Néscio, algo que reconheceu publicamente, Jair Bolsonaro não consegue enxergar o óbvio. E com seu destempero verborrágico acaba por prejudicar o presidente argentino Mauricio Macri, que tem pouco tempo para tentar reverter uma diferença preocupante em relação ao adversário e garantir a reeleição.
A maioria dos argentinos tem ojeriza a militares, que promoveram no país vizinho uma matança sem precedentes durante a ditadura que teve como expoente o facinoroso general Jorge Rafael Videla, que chegou ao poder após golpe de Estado. Ele foi sucedido no cargo por Roberto Eduardo Viola, Leopoldo Galtieri Castelli e Reynaldo Bignone Ramayón.
Responsável pelos “voos da morte”, prática usada pelos militares argentinos que eliminou aproximadamente 6 mil adversários do regime, Videla foi condenado à prisão perpétua pela morte de milhares de civis, além de condenação adicional (50 anos de prisão) pelo roubo de 35 bebês, filhos de desaparecidas políticas. Durante julgamento, em 2010, Jorge Videla admitiu as mortes e declarou não se arrepender do que fez.
Diante desse retrospecto, não é difícil concluir que na Argentina declarações de alguém com o perfil de Jair Bolsonaro são rechaçadas e não ajudam quem quer que seja. Se o presidente brasileiro fosse minimamente inteligente, o que não é, perceberia que seu silêncio é seria a melhor contribuição para Macri.