Em novo rompante totalitarista, Bolsonaro ignora Moro e diz que pode trocar diretor-geral da PF

Somente os eleitores incautos acreditaram que Jair Bolsonaro representava o novo na política. Digno representante da “velha política”, Bolsonaro tem contra si não apenas o fato de ter passado quase três décadas no Congresso sem nada fazer, mas principalmente a repulsa incontestável pela democracia, pelas liberdades e pelas minorias. Ou seja, o agora presidente da República mostrou-se durante a campanha eleitoral como defensor da democracia, mas agora começa a dar vazão à sua essência totalitarista.

Esse comportamento détraqué em termos políticos encontra explicação não apenas por suas crenças político-ideológicas, mas na necessidade de continuar agradando a parcela da sociedade que é movida pelo berrante bolsonarista. Sem ter como cumprir as absurdas promessas de campanha, o presidente não tem como descer do palanque, pois se assim fizer correrá o risco de ser apeado do cargo. Ou seja, Bolsonaro precisa da “manada ignara” para garantir sua permanência no Palácio do Planalto.

Nos tempos de Partido Progressista (PP), quando estava deputado federal, Bolsonaro era chamado de “laranja” por José Janene (já falecido), que à época mandava e desmandava na legenda. Se Jair Bolsonaro é de fato um “laranja” não se sabe, mas faz-se necessário reconhecer que o presidente não sabe o que fala ou, então, age a reboque da estupidez apenas para fazer a alegria do seu Coliseu.

Em mais um rompante totalitarista, Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (22) que o diretor-geral da Polícia Federa (PF), delegado Maurício Valeixo, é seu subordinado, não do ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Nessa clara demonstração de poder, típica de quem cultua o retrocesso e o totalitarismo, o presidente da República não descartou a possibilidade de substituir o diretor-geral da PF. Em outras palavras, Bolsonaro mais uma vez desidratou o ex-juiz Sérgio Moro, que até outro dia era seu trunfo no escopo da governança.

“Se eu trocar (o diretor-geral da PF) hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sérgio Moro. E ponto final”, declarou o presidente aos jornalistas, quando deixava o Palácio da Alvorada. “Ele (Valeixo) é subordinado a mim, não ao ministro. Deixo bem claro isso aí. Eu é que indico. Está bem claro na lei”, declarou Bolsonaro.


Longe de ser a versão tropical e mambembe de Luís XIV, até porque lhe falta competência e intelecto, Bolsonaro parece acreditar no mote entoado pelo então rei da França: “O Estado sou eu” (“L’État c’est moi”, em francês). Agindo como ditador moderno, o presidente brasileiro acredita que pode tudo e mais um pouco, apenas porque venceu a corrida presidencial de 2018. Contudo, alguém precisa avisar Bolsonaro sobre a existência da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, que trata dos crimes de responsabilidade, caminho natural e primeiro para um pedido de impeachment.

Na quarta-feira (21), o presidente disse que pode “interferir mesmo” em alguns órgãos federais se necessário. Nesta quinta, Bolsonaro voltou a enfatizar esse pensamento, alegando que ingerências são uma forma de “mudança”.

“Quero que se combata a corrupção, que façam as coisas da melhor maneira possível. Eu não estou acusando ninguém de fazer nada errado. Mas a indicação é minha. Por isso elegeram o presidente da República. Se não pudesse ter ingerência, interferência – para mim é mudança -, seria mantido o anterior, o cara que foi nomeado antes iria ficar até morrer”, disse o chefe do Executivo federal.

A polêmica em torno da PF passou a fermentar quando Bolsonaro comentou sobre a saída do delegado Ricardo Saadi da Superintendência da PF no Rio de Janeiro. A saída de Saadi estava sendo tratada há alguns meses, por vontade do próprio delegado, não porque ele tem falhado na gestão do capítulo fluminense da instituição.

“Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze (superintendentes) foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá e dizem ‘está interferindo’. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Não se discute isso aí”, afirmou, deixando evidente que democracia está longe de ser seu forte.

Vale ressaltar que o então presidente Fernando Collor de Mello deu os primeiros passos no calvário político quando acreditou estar acima de tudo e de todos, inclusiva da lei. A continuar assim, com destampatórios recorrentes e lufadas totalitaristas, Bolsonaro está a conclamar uma cruzada contra o próprio mandato. Há quem goste e viver perigosamente, há quem acredita que é o gênio da vez. A questão envolvendo Bolsonaro há muito deixou de ser de impedimento, mas de interdição.