(*) Ucho Haddad
“A idade não nos protege contra o amor. Mas o amor, até certo ponto, protege-nos contra a idade.” (Jeanne Moureau)
Não é de hoje que chamo a atenção para o fato de Jair Bolsonaro ser despreparado e desprovido do necessário estofo para ocupar um cargo de tamanha relevância, como o de presidente da República. Acreditando ter sido eleito dono do Brasil, o que passa ao largo da democracia e da legislação vigente, Bolsonaro insiste em confundir o Palácio do Planalto com a estrebaria do quartel, onde certamente seria repelido aos coices.
Populista barato e sempre valendo-se da delinquência intelectual para existir, Bolsonaro não mede as próprias palavras, muito menos os efeitos colaterais dos seus costumeiros destampatórios. Sem ter como cumprir as absurdas promessas de campanha, o presidente continua no palanque – de onde deveria ter descido logo após a corrida presidencial – para anestesiar a parcela da opinião pública que lhe confiou o voto. E assim será enquanto estiver no Poder, pois nada além disso deve-se esperar de um governante que se diz ignaro e acha graça própria estupidez.
Que Jair Messias Bolsonaro é tosco o suficiente para ser comparado a um brucutu todos sabem, mas não se pode aceitar que alguém use a falta de compostura para decidir o futuro do País. Alguém há de dizer que votou em Bolsonaro por conta do seu jeito estúpido de ser, porém esse discurso boquirroto perdurará até o momento em que a tragédia que assola o Brasil se agigantar, sem direito a recuo ou arrependimento.
Refém dos ruralistas, a quem deve muitos favores, em especial os feitos durante a campanha, o presidente vê-se obrigado a dar a devida contrapartida aos barões do campo, não importando os reveses impostos à sociedade e às futuras gerações. Do contrário, um pedido para que seja apeado do cargo passaria com muita facilidade no Parlamento.
À sombra dessa relação espúria, Bolsonaro já não se preocupa com os seus discursos, assim como pouca importância dá ao que diz e a quem. Está tudo certo e maravilhoso na opinião do presidente, que para fazer a alegria dos ruralistas tem se posicionado contra o meio ambiente, contra a ciência, contra a comunidade internacional, contra chefes de Estado. Bolsonaro, que desconhece as palavras humildade e recuo, talvez por conta da sua persistente pequenez, vem se posicionando contra o óbvio, contra o bom senso.
Quem acompanhou com proximidade a trajetória política desse détraqué que se instalou no Palácio do Planalto não se surpreende com os capítulos da ópera bufa protagonizada por aquele que uma parte da sociedade resolveu chamar de “mito”. Porém, ultrapassa as fronteiras do absurdo um chefe de Estado que age como cafajeste para mostrar ao mundo sua firmeza como governante e sua virilidade como homem. Talvez nem Sigmund Freud fosse capaz de explicar esse descontrole comportamental.
Açoitado pela comunidade internacional por causa do desmatamento e das queimadas na Amazônia, o presidente há muito deixou de ser caso para impeachment. É caso de interdição. No afã de manter unida a horda de apoiadores, o que lhe dá fôlego extra para manter-se no cargo, Bolsonaro decidiu fazer troça com a primeira-dama da França, Brigitte Macron, cujo marido, Emmanuel Macron, é 24 anos mais novo e lidera movimento contra a política ambiental verde-loura.
Bolsonaro aproveitou postagem de um dos seus seguidores nas redes sociais para provocar o presidente da França, usando o deboche como arma. Poder-se-ia dizer que o presidente brasileiro é o típico idiota útil, mas nem isso ele consegue ser. Afinal, até mesmo para ser idiota é preciso doses rasas de competência, o que lhe falta desde nascituro.
Como se fosse criado à imagem e à semelhança de Bolsonaro, o que significa ser tão estúpido quanto, o internauta bolsonarista publicou em dada rede social que Macron tem inveja do homólogo brasileiro pela diferença de idade entre as respectivas esposas. Bolsonaro não se fez de rogado e, a reboque de essência estulta, respondeu ao apoiador com a seguinte frase: “Não humilha cara. Kkkkkkk”.
Covarde, já que não sustenta as próprias palavras, Jair Bolsonaro dirá em algum momento que a resposta ao seguidor, eivada de deboche e cafajestice, não foi postada por ele, mas por terceiros. Coisa típica de quem flerta diuturnamente com a canalhice.
Pessoas são incomparáveis, por isso a reação de Bolsonaro é descabida. Pessoas não devem ser medidas pela aparência, por isso a reação de Bolsonaro foi um ato típico de calhorda. Pessoas não devem ser julgadas pela idade, por isso a reação de Bolsonaro foi coisa de pulhas.
Considerada uma das maiores escritoras francesas de todos os tempos, Amandine Aurore Lucile Dupin (1804 – 1876), cujo pseudônimo era George Sand, dizia: “Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé”.
Bolsonaro já demonstrou em diversas ocasiões que não tem coração, tem mostrado ao mundo que é inexperiente e não se avexa ao fazer uso político de uma fé de camelô. Isso posto, falar de Amandine Dupin para alguém desprovido de massa encefálica, alma e sentimento é perda de tempo.
Brigitte Macron, aos 66 anos, é uma mulher altiva, senhora de si e companheira de um dos estadistas mais influentes da atualidade. Além disso, a primeira-dama da França, quando o assunto é intelecto, coloca Bolsonaro e Michelle na bolsa.
Macron, o presidente, em breve completará 42 anos. Michelle Bolsonaro, que ainda não explicou o depósito bancário feito por Fabrício Queiroz, tem 37 anos (27 a menos que o marido), o que a transforma em “troféuzinho de progesterona”.
Destarte, recorro a outro escritor francês, Charles Péguy (1873 – 1914), para analisar a faixa etária de ambos (Macron e Michelle). “Os 40 anos são uma idade terrível. É a idade em que nos tornamos naquilo que somos”, escreveu Péguy.
Se, de acordo com a sabedoria popular, “para bom entendedor meia palavra basta”, faz-se desnecessário explicar a preciosa frase de Charles Péguy. A História e os fatos falam por si, o que dispensa passar em revista os currículos de ambos, pois alguém poderia se escandalizar.
Jair Bolsonaro é o típico “porco chauvinista” – sugiro que leiam sobre o fanatismo quase obsessivo que Nicolas Chauvin devotava a Napoleão –, o que explica o patriotismo cego e burro e o nacionalismo doentio. Lembro que o ortodoxismo em todas as frentes me assusta sobremaneira.
Do alto da sua conhecida e recorrente deselegância, Bolsonaro novamente precisou exalar sua macheza, dando a entender, no comentário em rede social, que a primeira-dama da França é velha. O presidente, que desconhece a diferença entre idoso e velho, deveria se inteirar acerca do significado da palavra velhaco, já que o de cafajeste ele já sabe.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.
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