A ignorância do presidente Jair Bolsonaro – algo que ele próprio já reconheceu publicamente – chega a ser nauseante, não sem antes ser devastadora. Movido pelo odioso revanchismo ideológico e a serviço de setores da economia que posam de querubins barrocos, Bolsonaro continua fermentando a troca de farpas com o presidente da França, Emmanuel Macron, que reagiu à pasmaceira do governo brasileiro diante das queimadas e do avanço do desmatamento na Amazônia.
Desprovido de massa cinzenta para compreender a importância das boas e civilizadas relações entre nações, Bolsonaro criticou a oferta, anunciada por Macron, de 20 milhões de euros da União Europeia para ajudar no combate às queimadas na Amazônia. A reboque de um discurso tosco que faz a alegria da sua turba de apoiadores, o presidente questionou a oferta, alegando que ninguém oferece ajuda sem interesse imediato.
“Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem retorno? Quem é que está de olho na Amazônia? O que eles querem lá?”, disse Bolsonaro aos jornalistas, sem responder a perguntas dos profissionais de imprensa.
Sem ter como cumprir as absurdas promessas feitas durante a corrida presidencial, Bolsonaro mais uma vez recorreu ao populismo barato, ao mesmo tempo em que tenta se fazer de vítima. Insistindo nos ataques à imprensa, a quem por diversas vezes chamou de mentirosa, o presidente da República alegou que prefere fazer um bom governo durante quatro ano, em vez de dedicar oito anos a uma gestão ruim.
Se a preocupação de Jair Bolsonaro é a alegada aos jornalistas, o melhor que ele pode fazer é acelerar o passo, pois restam apenas três anos dos anunciados quatro. Considerando que a inércia do governo e as declarações pífias e ufanistas do chefe do Executivo provocam efeitos colaterais graves e perigosos, somente um desavisado é capaz de acreditar no palavrório de Bolsonaro, que continua em cima do palanque.
Importante seria se alguém avisasse a Bolsonaro que governar não significa ser subserviente a alguns países e arrumar confusão com outros. Para quem acredita que o próprio filho tem condições de assumir a Embaixada brasileira em Washington, Bolsonaro é a fulanização da estupidez.
Não custa lembrar que a Guiana Francesa, como o próprio nome mostra, é um território ultramarino da França e está encravado na Amazônia. Ou seja, a Amazônia não é propriedade do Brasil nem dos brasileiros, mas de todos os países que fazem parte da área dominada pela floresta tropical. Além disso, a preservação da Amazônia é sumamente importante para o equilíbrio do clima do planeta, contribuindo sobremaneira para conter o avanço do aquecimento global.
Em jogo está a questão geopolítica, que ganha nuances de descabimento nas falas de Jair Bolsonaro, que se submete às vontades da Casa Branca, enquanto joga pela janela a possibilidade de incrementar a economia do Mercosul a partir do acordo bilateral de livre comércio do bloco com a União Europeia.
Alguém há de dizer que durante o encontro do G7 ficou acertado que a questão envolvendo a Amazônia não deve ser usada para dificultar ou inviabilizar o acordo entre Mercosul e União Europeia, mas é importante ressaltar que a proposta depende da aprovação dos parlamentos dos países que integram o bloco europeu. Caso Bolsonaro insista nessa beligerância de lupanar, o Brasil deve se preparar para dias difíceis.