Bolsonaro diz que aceita dinheiro do G7 se Macron retirar insultos; governo precisa combinar discursos

A incompetência que emoldura o governo de Jair Messias Bolsonaro é tão grande que chega a preocupar até mesmo os incautos. Como mencionado na matéria anterior, o presidente brasileiro havia descartado a ajuda financeira do G7 para combater os incêndios na Amazônia, pois o porta-voz do anúncio foi o francês Emmanuel Macron, com quem o brasileiro vem travando queda de braços e disparando ofensas e adotando postura cafajeste.

Bolsonaro rebateu as críticas do presidente da França com troça a respeito da primeira-dama do país europeu, Brigitte Macron, como se a aparência da esposa de um governante fosse assunto de Estado e tivesse alguma relevância. Misógino, machista e sexista, o presidente brasileiro agora muda o discurso, alegando que aceita a ajuda financeira do G7 caso Macron retire os insultos disparados nos últimos dias.

Beira a sandice a exigência de Jair Bolsonaro, que precisa de uma contrapartida do francês para não sair do episódio menor do que entrou. Acostumado a lidar com pessoas próximas como se estivesse cuidando da estrebaria do quartel, Bolsonaro desconhece as mais básicas noções de diplomacia. Em questão não está a defesa dos interesses do Brasil, mas de exigir um mínimo de coerência e elegância na relação entre chefes de Estado.

O que até a noite de segunda-feira (26) era assunto decidido, hoje mudou radicalmente. Na verdade, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu a aceitação da oferta feita pelo G7, que em termos da valores é ínfima, mas que ajudará de alguma maneira no combate às queimadas que devoram parte da floresta Amazônica. No contraponto, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, divulgou na do Itamaraty para afirmar que a recusa do Brasil em relação à mencionada oferta tinha o objetivo de garantir a soberania nacional. É difícil confiar em um governo cujos integrantes não equalizam o discurso.

Na segunda-feira, horas antes de anunciar oficialmente que abria mão dos US$ 20 milhões disponibilizados pelo G7, oferta que tem a participação dos Estados Unidos, a quem o governo brasileiro dedica subserviência, Bolsonaro questionou os interesses dos países ricos em relação à Amazônia. Faz-se necessário salientar, mais uma vez, que a diplomacia moderna dispensa o enfrentamento permanente, algo predominou nas décadas de 60 e 70, mas adota a cooperação entre nações com linha mestre.


Que o governo Bolsonaro é contra a globalização todos sabem, pois os ideólogos palacianos enxergam demônios e fantasmas onde não existem. De chofre é preciso ressaltar que a Amazônia espalha-se pelos territórios de vários países, sendo que o Brasil detém 60% da maior floresta tropical do planeta, o que não é pouca coisa. Os outros países são: Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território ultramar da França).

A preservação da Amazônia está diretamente ligada ao equilíbrio do clima, o que contribui para combater a elevação das temperaturas em todo o planeta. O contrário do que se afirmou ao longo dos últimos dias, a Amazônia não é o pulmão do mundo, pois consome todo o oxigênio que produz, mas é responsável por garantir chuvas em boa parte do território nacional e em países vizinhos. Isso ajuda a manter a temperatura global e interfere sobremaneira na produção do agronegócio. E só não enxerga a realidade quem veste a venda ideológica da “direita xucra” (o termo e da lavra do jornalista Reinaldo Azevedo).

O nacionalismo burro defendido por Jair Bolsonaro é perigoso para o País, pois flerta com o atraso e o isolamento, não sem antes fazer o Brasil refém de algumas poucas nações, o que compromete as exportações e, ato contínuo, a balança comercial brasileira. Além disso, esse nacionalismo utópico defendido por Bolsonaro, sob a desculpa de que é preciso manter a soberania do País, não passa de mera ferramenta populista e remete ao comportamento do francês Nicolas Chauvin, um semimítico que dedicava a Napoleão Bonaparte fanatismo nauseante e tosco.

Chauvin, por conta de seu comportamento deplorável em relação a Bonaparte, acabou dando origem ao temo chauvinista, que explica de maneira ampla o nacionalismo burro, como mencionado acima, e o patriotismo histérico e doentio.

A soberania nacional está garantida de forma clara e incontestável pela Constituição Federal de 1988, por isso não cabe a essa altura dos acontecimentos, enquanto a Amazônia arde em chamas, insistir nesse discurso mambembe de que é preciso defender os interesses do Brasil. Gostem ou não os bolsonaristas, os tempos atuais exigem cooperação, jamais isolamento.