Maior produtora internacional de salmão pode suspender compra de soja brasileira por causa da Amazônia

Depois de estranho recuo por parte da entidade que representa empresas exportadoras de couro, que afirmou, por meio de nota, que marcas internacionais haviam interrompido a compra do produto, o Brasil é alvo de decisão que poderá comprometer os negócios internacionais por conta da crise ambiental envolvendo a Amazônia.

A maior produtora de salmão do planeta, Mowi ASA (MOWI.OL), da Noruega, anunciou nesta quarta-feira (28) que poderá suspender a compra de soja do Brasil, caso o País não adote medidas para conter o desmatamento.

As queimadas que ardem na Amazônia aumentaram nos últimos meses, enquanto medidas de proteções ambientais foram cortadas, provocando ruidosa reação da comunidade internacional contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.

“O tratamento dado à Amazônia é inaceitável. A Mowi terá que considerar a possibilidade de procurar outras fontes de matéria-prima a menos que a situação melhore”, disse Catarina Martins, diretora de sustentabilidade da empresa.

A companhia norueguesa, que planeja vender aproximadamente 430 mil toneladas de salmão neste ano, é também grande produtora de alimento para peixes. “As fontes da Mowi (de soja) vêm de fornecedores certificados, e podemos garantir que nossos fornecedores não estão ligados a desmatamento ou violações de direitos humanos”, ressaltou a dirigente da empresa.


“No entanto, é importante que nós e todos que compram bens do Brasil digam claramente que a floresta tropical deve ser preservada e a situação atual é inaceitável”, apontou.

A Noruega está no centro de uma discussão sobre o Fundo Amazônia, após suspender o aporte de recursos em razão das mudanças propostas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O ministro disse que o país explora petróleo no Ártico e caça baleia, com o objetivo desqualificar as críticas feitas pelos noruegueses à crise ambiental envolvendo a Amazônia.

O governo Bolsonaro é refém dos ruralistas, que no Congresso controlam mais de 200 parlamentares, por isso medidas de combate ao desmatamento foram flexibilizadas. Além disso, não se pode esquecer que, em 4 de julho, durante encontro com deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Bolsonaro disse “esse governo é de vocês”.

“Ao longo de vinte e oito anos dentro da Câmara eu acompanhei e, mais do que isso, eu acredito que 100% votei com a bancada ruralista. E muitas vezes as questões nasciam ali como se fossem um parto de rinoceronte: era imprensa batendo em vocês, eram ONGS e eram também governos de outros países”, declarou o presidente durante café da manhã no Palácio do Planalto.

Na ocasião, Bolsonaro declarou que o encontro em Osaka (Cúpula do G20) “confirmou” o que ele pensava sobre interferência de estrangeiros na política ambiental brasileira.