Quem critica o presidente Jair Bolsonaro não demora muito para ser acusado de estar a torcer contra o Brasil, como se isso fosse verdade. Que a legião de bolsonaristas, que enfrenta processo de desidratação, tem dificuldades para aceitar a realidade todos sabem, mas é preciso alguma explicação para o que representa a atitude de uma pessoa que apoia e endossa a verborragia do presidente da República.
A mais nova estultice presidencial teve como alvo da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, que atualmente comanda o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos. Em Genebra, Bachelet disse que, “nos últimos meses, observou uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos, restrições ao trabalho da sociedade civil e ataques a instituições de ensino”.
Goste ou não Bolsonaro, a representante da ONU está coberta de razão, pois os números da violência no Brasil são assustadores, especialmente quando a pauta é a ação das forças policiais. Já está provado, de forma ampla e incontestável, que problemas na área da segurança pública não se resolve com o enfrentamento, mas o presidente da República insiste no discurso tosco e radical que o levou ao Palácio do Planalto.
Em relação à menção às instituições de ensino, Bolsonaro não tem como negar aquilo que ele próprio determina na área da educação, que desde o início de 2019 vem sofrendo com propostas de radicalização e a incompetência dos ministros da pasta.
“Está acusando que eu não estou punindo policiais, que estão matando muita gente no Brasil. Essa é acusação dela. Ela está defendendo direitos humanos de vagabundos”, afirmou Bolsonaro ao comentar as declarações da ex-presidente chilena.
Do alto da sua ignorância e do seu despreparo, Bolsonaro emendou: “Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de direitos humanos da ONU”.
Jair Bolsonaro não abre mão do revanchismo ideológico como bandeira de um governo pífio e desqualificado, que prega o discurso de ódio e a divisão da sociedade. Essa decisão já custa muito caro ao Brasil, sendo que, a continuar assim, o preço há de subir.
Ao rebater as declarações da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Bolsonaro não apenas deu razão a Michelle Bachelet, mas colocou o Brasil em situação ainda mais complexa no cenário internacional. Até porque, a reação de diversos chefes de Estado e de governo foi negativa.
Quando o UCHO.INFO afirmava que Bolsonaro em algum momento daria um “cavalo de pau” na democracia brasileira, seus coléricos apoiadores reagiam afirmando que era preciso aceitar o resultado das urnas.
A questão, é importante ressaltar, não está em colocar em xeque os resultados da eleição presidencial de 2018, que ocorreu dentro das regras, apesar das transgressões, mas de defender a democracia e o Estado Democrático de Direito.