Assessores palacianos temem eventual retaliação a Jair Bolsonaro durante discurso na ONU

Há dias, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que comparecerá à abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no próximo dia 24, em Nova York, mesmo que em cadeira de rodas ou sobre uma maca. Desde 1947, quando o então ministro Oswaldo Aranha (Relações Exteriores) discursou na ONU, é tradição o Brasil abrir a Assembleia.

Bolsonaro, que passará por nova cirurgia no domingo (8), recebeu dos médicos a informação de que o período de recuperação deve demorar em torno de dez dias. Isso faz com que a viagem a Nova York ocorra dias após a alta médica, caso nenhum intercorrência aconteça nesse período.

O presidente brasileiro disse que na sede da ONU falará sobre a Amazônia, com base no seu conhecimento sobre a maior floresta tropical do planeta. Boa parte da população sabe que Bolsonaro é um néscio em questões relacionadas à Amazônia, mas sua insistência em comparecer à Assembleia-Geral da ONU encontra explicação na necessidade de minimizar o estrago diplomático que ele próprio criou para o País.

Se Bolsonaro irá à ONU a bordo de cadeira de rodas ou de maca hospitalar não se sabe, mas o presidente corre o sério risco de deixar o evento em uma “ambulância diplomática”, o que tem obrigado integrantes do núcleo duro do governo brasileiro a trabalhar com a possibilidade de retaliação por parte de alguns países, como Venezuela, Cuba e França.

O cenário que já era ruim por conta dos destampatórios oficiais (inclua-se nisso o ataque a Brigitte Macron) piorou sobremaneira com o ataque de Bolsonaro à ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, atualmente à frente do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Ao rebater a declaração de Bachelet sobre o retrocesso dos direitos humanos no Brasil, Bolsonaro insultou a chilena ao defender a ditadura liderada por Augusto Pinochet, um facínora que torturou e matou milhares de pessoas em seu país, incluindo a própria comissária da ONU e seus pais.


Assessores palacianos temem que representantes de alguns países, incomodados com as recentes declarações de Bolsonaro, deixem o plenário da ONU no momento do seu discurso. Há também a preocupação com eventual ampliação desse movimento se alastre, o que aumentaria o constrangimento ao presidente da República.

No afã de minimizar os efeitos colaterais do suposto protesto, integrantes do governo brasileiro trabalham intensamente para agendar encontros paralelos, com a expectativa de que Jair Bolsonaro não perca o protagonismo na sua estreia na ONU. Se essa estratégia funcionará ainda é cedo para afirmar, mas não se pode descartar a chance de um fiasco, principalmente se o chefe do Executivo nacional insistir na verborragia agressiva e na diplomacia de confronto.

Servidores palacianos e do Ministério das Relações Exteriores agem nos bastidores para “tentar consertar o estrago feito” a partir dos ataques a Michelle Bachelet, que na seara da diplomacia foram considerados “um tiro no pé”.

Entre as principais preocupações dos funcionários do Itamaraty está a possibilidade de o ataque a Bachelet ter comprometido a relação de Bolsonaro com o presidente do Chile, Sebástian Piñera.

O presidente Bolsonaro tem recebido conselhos para moderar os discursos, mas é difícil controlar alguém que tem na insanidade da oratória a tábua de salvação política. Por enquanto, os apoiadores do presidente creem que esse ‘jeito estúpido de ser” é a solução para os muitos problemas do País, mas lá adiante a conta há de chegar. Aguardemos, pois!