Demissão de Marcos Cintra foi embalada pela covardia de Guedes e pelo totalitarismo de Bolsonaro

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Eis o que estabelece a Carta Magna no artigo 1º (parágrafo único), mas aqueles que, em nome de assumir um cargo eletivo, prometem cumprir a lei máxima do País em sua inteireza, mas acabam por não fazer porque a obsessão pelo poder leva à transgressão da legislação vigente.

O Brasil é uma democracia representativa que, mesmo debaixo de solavancos e achincalhes, consegue manter intacta sua solidez. No momento em que a sociedade defende a democracia, apesar das muitas ameaças, e exige exercê-la de forma plena, causa espécie o silêncio do cidadão diante dos desmandos cometidos por governantes que flertam diuturnamente com o retrocesso. Ou, como disse a cantora Elza Soares em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, parece que “puseram tranquilizante na água do povo”, tamanha é a apatia dos brasileiros.

Esse introito serve para emoldurar a mais recente polêmica no escopo do governo de Jair Bolsonaro, que age a reboque de doses de populismo barato e pitadas de totalitarismo moderno. A demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, se deu porque o presidente da República não gostou de ver o projeto de criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF ser exposto à opinião pública.

Ora, se a democracia emana do povo e quem está no Poder foi eleito pelo voto popular, não há razão para camuflar uma proposta que, se aprovada, acabará corroendo com maior voracidade o bolso dos mais podres, como sempre acontece.

A “nova CPMF”, cuja criação não foi descartada, apesar da demissão de Cintra, incidirá sobre os meios de pagamento, ou seja, prejudicará a sociedade com um todo, mas com maior peso na seara dos desfavorecidos.

O UCHO.INFO há muito se posiciona contra a criação desse famigerado imposto, pois entende que há outros meios para incrementar a arrecadação tributária, que em sua perversidade já está na casa dos 34% do Produto Interno Bruto (PIB).


O presidente da República, enquanto candidato, não escondeu sua ignorância em termos econômicos, ocasião em que apelidou seu futuro ministro da Economia de “Posto Ipiranga”, como se Paulo Guedes fosse capaz de solucionar todos os problemas que chacoalham o País.

Guedes, que até dias atrás defendia a criação da “nova CPMF”, agiu de forma covarde ao aceitar a imposição de Bolsonaro, que determinou a exoneração do secretário da Receita. Coerência no mundo político é mercadoria rara, mas Guedes deveria ter demonstrado lealdade a Cintra e deixado o governo de forma simultânea.

Que ninguém surja em cena com o discurso de que é preciso responsabilidade quando se está em cargo de relevância, pois a crença econômica Paulo Guedes é idêntica à de Cintra. E ambos não acreditam no que prometeu o então candidato Bolsonaro durante a corrida eleitoral, muito menos no que defende o presidente da República.

O UCHO.INFO continua insistindo na tese de que aludida “nova CPMF” é perniciosa, mas é importante reconhecer que o Estado precisa encontrar uma forma de reforçar o caixa e voltar a investir, sob pena de o País entrar em processo de paralisia.

A proposta defendida por Marcos Cintra, que também contou com a defesa de Guedes, busca a substituição do modelo tributário por meio da unificação de impostos. Que isso ocorra não incidindo sobre os meios de pagamento, mas em alguma seara da atividade econômica que não penalize os mais pobres.

Bolsonaro sabe que prometeu aos eleitores algo impossível de ser cumprido, mas revelar a verdade a essa altura dos acontecimentos representaria suicídio político por parte de alguém que já trabalha pela reeleição, sem ter condições para tal. Ou o governo deixa de fazer bondades aos privilegiados e o povo admite a necessidade de algum sacrifício, ou é melhor aceitar a ideia de que o nó que aí está não tem como ser desatado.