Na ONU, Bolsonaro fará críticas a Cuba e Venezuela, mostrará subserviência a Trump e rebaterá Macron

Depois do suspense sobre viagem a Nova York, o presidente Jair Bolsonaro decidiu participar da 74ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na próxima terça-feira (24). Mesmo assim, Bolsonaro ainda aguarda um “sinal verde” dos médicos que cuidam de sua saúde desde o ataque a faca, na cidade mineira de Juiz de Fora.

Apesar da confirmação da viagem, presidencial aos Estados Unidos, assessores palacianos continuam avaliando a possibilidade de Bolsonaro ser alvo de retaliação por parte de alguns chefes de Estado e de governo, contrariados com as recentes e nada diplomáticas declarações do mandatário brasileiro sobre a crise ambiental que se formou a partir das queimadas na Amazônia.

No discurso que fará na abertura da Assembleia-Geral da ONU, Jair Bolsonaro fará críticas aos governos da Venezuela e de Cuba, o que não configura novidade, já que o presidente brasileiro insiste em radicalizar o discurso dedicado a regimes esquerdistas. Bolsonaro também abordará na ONU a questão da Amazônia, como forma de rebater a proposta do presidente francês, Emmanuel Macron, de internacionalizar a maior floresta tropical do planeta.

Não há dúvida de que a proposta de Macron passa longe de qualquer possibilidade de concretização, mas é preciso cautela com a resposta, principalmente porque o presidente brasileiro não é um especialista em diplomacia, pelo contrário. Há uma diferença enorme entre defender uma posição soberana e atacar de maneira irresponsável um chefe de Estado, provocando fissuras nas relações comerciais internacionais.


Além disso, não se pode esquecer que a Amazônia não é exclusividade do Brasil, mesmo que a maior parte da floresta (60%) esteja em território nacional. Mesmo assim, outros países também abrigam porções da floresta tropical, como Peru (13%), Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (região ultramarina da França). Ou seja, de algum modo a Amazônia é internacional.

No momento em que o Brasil precisa “vender” credibilidade e recuperar a confiança dos investidores, em especial dos estrangeiros, desperdiçar o discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, abrindo espaço para questões ideológicas, é fechar os olhos para a realidade.

Que Bolsonaro é um despreparado confesso todos sabem, mas insistir em impor ao País mais um espetáculo vexatório não é o melhor caminho. Ainda há tempo de, considerando que a viagem está praticamente confirmada, rever o tom do discurso, cuja redação final contou com a participação do filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PLS-SP), do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Esse detalhe sobre a elaboração do discurso mostra que, mais uma vez, Bolsonaro destilará pílulas de subserviência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já que a aprovação do nome do filho para a Embaixada do Brasil em Washington continua dependendo desses salamaleques. Não obstante, é necessário ressaltar que Ernesto Araújo encontrou-se recentemente com Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, para tratar do discurso que o presidente brasileiro fará na ONU.