Covarde contumaz, Bolsonaro pede desculpas ao Supremo por vídeo e diz que publicação foi um “erro”

O despreparo e a falta de bom senso do presidente Jair Bolsonaro avançam de maneira tão célere, que preocupam cada vez mais os brasileiros de bem, já cientes de que o Brasil vive um capítulo pífio da sua história.

Em Riad, capital saudita, onde cumpre a última etapa de seu giro pela Ásia e pelo Oriente Médio, Bolsonaro pediu desculpas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e classificou como “erro” a publicação do vídeo em que ele próprio representa um leão e compara a Corte, partidos políticos e entidades a hienas que o atacam.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o presidente da República isentou o filho Carlos Bolsonaro da responsabilidade pela postagem, afirmando que “publicará uma matéria” com pedido de desculpas. “Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria”, disse Bolsonaro.

O presidente sabia que a publicação era grosseira e desnecessária, mas a necessidade de jogar para a sua plateia – um terço da população – o leva a situação extremas e questionáveis, talvez condenáveis. A questão é que a tal postagem, mesmo apagada, cumpriu o objetivo traçado pela assessoria presidencial, que era confrontar o Supremo, a ONU e o PSL, partido que vem criticando duramente a postura ditatorial de Bolsonaro.


Na manhã desta terça-feira (29), horário de Riad, quando questionado sobre a crítica do ministro Celso de Mello (STF), que tratou a postagem como “atrevimento sem limites”, Bolsonaro, como sempre faz quando contrariado, abandonou a entrevista que concedia jornalistas brasileiros.

Em nota, Celso de Mello disse que a comparação foi feita “de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores”.

Para o ministro, o vídeo é uma “expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes” e de quem “teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”.

Ciente de que se deixasse a responsabilidade pelo vídeo com o filho Carlos o estrago político que o Supremo poderia produzir no clã seria monumental, Bolsonaro foi impelido a assumir a paternidade do destampatório, como se o presidente de um país em crise tivesse tempo para essas incursões raivosas.

É preciso investigar de onde partiu a publicação para identificar o verdadeiro responsável pelo vídeo, pois aceitar a desculpa do presidente da República é passar recibo de inocência. Ou o brasileiro dá um basta a essa tentativa truculenta de engessar a democracia brasileira, ou aceita que o País está no caminho do retrocesso.