Ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes é alvo de mandado de prisão no âmbito da Operação Lava-Jato

Horacio Cartes, ex-presidente do Paraguai, é alvo de mandado de prisão preventiva nesta terça-feira (19) em operação do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF), por suspeita de ajudar na fuga de Dario Messer, conhecido como “o doleiro dos doleiros”. Messer foi preso em bairro nobre da capital paulista em julho passado, após ficar foragido por 14 meses.

A operação batizada de Patron – “patrão” em espanhol, nome que seria utilizado por Messer para se referir a Cartes – é um desdobramento da “Operação Câmbio, Desligo”, desdobramento da Operação Lava-Jato. O mandado de prisão foi emitido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O ex-presidente paraguaio teve seu nome incluído na chamada difusão vermelha da Interpol.

A operação Patron também tem como alvo pessoas que ajudaram o doleiro a fugir ou ocultar seu patrimônio, inclui 37 mandados para serem cumpridos em São Paulo, Búzios, Rio de Janeiro e Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. Ao todo, são 16 mandados de prisão preventiva, 3 de prisão temporária e 18 de busca e apreensão.

A operação resultou na prisão do doleiro Najun Azario Flato Turner em São Paulo. A PF também realizou buscas no bairro de Copacabana, na capital fluminense.

Messer era procurado desde maio de 2018, após o início da “Câmbio, Desligo”, que constatou a participação de doleiros em movimentação de US$ 1,6 bilhão em 52 países, em uma espécie de sistema financeiro paralelo destinado à lavagem de dinheiro e transferência ilegal de divisas.

O doleiro é alvo de investigações policiais desde os anos 1980, em razão de movimentações financeiras suspeitas envolvendo empresários, políticos e criminosos. Na última semana, Messer teve um pedido de liberdade negado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Sua associação com o ex-presidente paraguaio é monitorada por autoridades norte-americanas há pelo menos duas décadas. A sociedade entre Cartes e Messer foi confirmada por um ex-parceiro do doleiro, Lucio Bolonha Funaro, encarregado da lavagem de dinheiro do grupo liderado por Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados.


Cartes, um dos empresários mais ricos do Paraguai, governou o país sul-americano durante cinco anos, até agosto de 2018. Sua eleição, em 2013, significou a volta do conservador Partido Colorado ao poder.

A legenda já havia dominado a política do país durante 60 anos, incluindo os 30 anos da ditadura do general Alfredo Stroessner. A hegemonia do partido foi interrompida somente em 2008, com a eleição do esquerdista Fernando Lugo à presidência, que acabaria sendo deposto em 2012.

Atualmente, Cartes é senador vitalício, cargo que a Constituição do Paraguai garante a todos os ex-chefes de governo. Ele também é o presidente do grupo Cartes, que reúne empresas produtoras de carnes, roupas, bebidas, cigarros e charutos e administra diversos centros médicos pelo país.

Segundo o presidente do Congresso paraguaio, Blas Llano, como Cortes é senador isso significa que ele tem imunidade parlamentar e não pode ser preso. “A Justiça brasileira não pode solicitar a perda da imunidade ao Congresso paraguaio. Tem que ser um juiz competente da República [do Paraguai]”, disse Llano, em entrevista ao jornal paraguaio Hoy.

Quem é Najun Turner?

O uruguaio Najun Azario Flato Turner sempre foi conhecido pela destreza com que operava no mercado paralelo de câmbio, sendo que seu nome apareceu recentemente na crônica policial por conta da “Operação Sexta-Feira 13”, que divulgou uma lista de doleiros com dívidas bilionárias junto à União. Em 2009, quando a “Sexta-Feira 13” foi deflagrada, a dívida dos doleiros era de R$ 14,4 bilhões.

Com dívida superior a R$ 266 milhões – valor da época –, Najun Turner teve seu nome envolvido na Operação Anaconda, que revelou esquema criminoso de venda de sentenças judiciais, e na Operação Uruguai, na qual foi investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) juntamente com o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Condenado a dez anos de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TFR-3), Tirner foi preso em março de 2005 pela Polícia Federal por crimes contra o sistema financeiro.

Najun Turner era dono de uma casa de câmbio e operava como pessoa física no sistema financeiro, investindo recursos de terceiros em operações com dólares, ouro e na Bolsa. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, uma das corretoras de valores usadas por Turner era a Split, que mais tarde apareceu no escândalo dos precatórios.