A reeleição da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores é uma clara demonstração da pouca disposição da legenda para unir a esquerda e buscar uma construção de uma oposição firme e criteriosa ao desgoverno de Jair Bolsonaro.
Apesar de ter sido reeleita pela maioria dos delegados do partido, Gleisi deixa muito a desejar como dirigente partidária, pois desde que chegou ao posto limitou-se a cumprir ordens de Lula, que recentemente deixou a prisão na esteira de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
A recondução da parlamentar ao comando da sigla confirma a decisão do ex-presidente Lula de radicalizar o discurso, alternativa descabida e irresponsável para quem defende uma oposição ferrenha ao atual inquilino do Palácio do Planalto.
Isso posto, não há mais dúvidas a respeito da continuidade da polarização política, algo que há muito corrói as esperanças de uma nação. A polarização, como pretende Lula e o próprio presidente Jair Bolsonaro, interessa apenas a ambos, a exemplo do que acontece desde o golpe de 64, para não retroceder muito na linha do tempo.
O Brasil vive um momento crítico em vários sentidos, o que de chofre exige equilíbrio e sensatez política na busca de soluções. Se Lula não consegue enxergar a importância de se aproximar do chamado “centrão”, é porque uma mudança de rumos é mais do que necessária.
A questão é simples e não exige doses extras de massa cinzenta para compreender. Se o objetivo dos brasileiros de bem é impedir o avanço das medidas adotadas por um governo retrógrado e revanchista, o melhor caminho é optar pela coalizão de forças e pelo equilíbrio nas decisões.
Querer ressuscitar o PT no vácuo do desgoverno Bolsonaro, depois dos múltiplos estragos promovidos pela legenda, é falta de bom senso político. O discurso radical de Gleisi Hoffmann não convence além das fronteiras petistas, o que dificulta qualquer tipo de eventual aliança com outras correntes oposicionistas.
Reinventar a esquerda e tentar salvar o que restou do PT, que até agora não conseguiu das cordas, exige a presença de alguém parcimonioso no comando da legenda, além de respeito nas hostes políticas nacionais. Atualmente, o melhor nome dentro do PT para essa árdua tarefa é Jaques Wagner, senador pela Bahia, mas que há muito enfrenta resistência nos bastidores da sigla.
Caso insista em manter o controle do PT, impedindo que novas lideranças assumam a responsabilidade por uma oposição séria e consistente, Lula estará mandando pelo ralo sua inegável capacidade como negociador. Tomando por base que o ex-presidente já tem 74 anos (tempo médio de vida do brasileiro), é chegada a hora de passar o bastão e salvar o País do retrocesso e do obscurantismo defendidos por Bolsonaro.