Discursos de Damares Alves sobre violência contra a mulher são ambíguos e marcados pelo “faz de conta”

Em qualquer país sério, Damares Alves jamais teria sido nomeada ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, até porque quem subtrai uma criança de uma aldeia indígena, sob argumento tipicamente embusteiro, é desqualificada para cargo de tamanha relevância.

Não obstante o fato acima, Damares é conhecida por seus devaneios discursivos, sempre escorados pela fé e por suas convicções religiosas. Contudo, além de o Estado brasileiro ser laico, a sociedade não pode aceitar o comportamento de alguém que age como verdadeiro saduceu (integrante de elite religiosa presente na Judeia, que controlava as decisões nos templos e tinha grande influência política).

Na segunda-feira (25), como noticiado pelo UCHO.INFO, Damares convocou entrevista coletiva no Palácio do Planalto, mas, além de permanecer calada, deixou o evento diante das primeiras perguntas dos jornalistas. Em seguida, após evento palaciano pelo Dia Nacional de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, a ministra explicou que seu silêncio foi uma encenação para mostrar o quão importante é dar voz às mulheres.

“Eu fiquei em silêncio para que vocês sintam como é difícil uma mulher ficar em silêncio. Quando eu queria falar tanto para vocês hoje, dizer dessa campanha belíssima, eu preferi o silêncio. É muito ruim tirar a voz de uma mulher. Era esse o recado que eu queria dar, e obrigada por terem participado voluntariamente e involuntariamente da campanha. Que todas as mulheres tenham voz”, disse Damares.

O comportamento ciclotímico da ministra é deveras preocupante, pois não se pode defender uma posição em determinado momento e, meses depois, defender outra. Aliás, faz-se necessário destacar que deve ser extremamente balizada toda declaração de um ministro de Estado responsável pela área de direitos humanos, como um todo.


Em 16 de abril deste ano, durante depoimento à Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Câmara dos Deputados, a ministra, quando perguntada sobre a submissão da mulher ao homem, não titubeou e disse que na doutrina cristã, o homem é o líder do casamento.

“Dentro da doutrina cristã, sim. Dentro da doutrina crista, lá dentro da igreja, nós entendemos que um casamento entre homem e mulher, o homem é o líder do casamento. Então essa é uma percepção lá dentro da minha igreja, dentro da minha fé”, declarou Damares Alves.

Tomando por base que a ministra já declarou que é “terrivelmente cristã”, mesmo reconhecendo que o Estado é laico, suas declarações não podem ser pautadas pela ambiguidade nem devem servir de muleta para um governo tosco e despreparado, que até o momento não mostrou a que veio.

No momento em que alguém defende que a mulher deve ser submissa ao homem, soa como intrínseco e permitido, pelo menos aos adeptos da violência doméstica, que a agressão física e moral é o instrumento necessário para manter essa submissão.

Fosse o presidente da República minimamente corajoso e não dependente da bancada evangélica, Damares Alves já teria sido afastada do cargo por justa causa e estaria respondendo aos devidos processos.