Que Paulo Guedes, ministro da Economia, é um néscio em termos políticos todos sabem, mas é inadmissível que um graduado agente do Estado atente contra a democracia e defenda uma medida truculenta, como o Ato Institucional nº 5 (AI-5), instrumento usado pela ditadura militar para calar as vozes contrárias.
Estafeta de plantão do presidente Jair Bolsonaro, no melhor estilo “moleque de recados”, Guedes deveria ater-se aos assuntos relacionados à pasta, evitando comentários absurdos e tolos, como o que classificou como “uma insanidade” o fato de Lula cobrar a presença da população nas ruas para protestar contra o governo.
“Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo pra quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5”, declarou o ministro da Economia. Guedes também sugeriu que o projeto de lei que trata do excludente de ilicitude seria uma resposta de Bolsonaro ao discurso de Lula. Ou seja, um dos principais assessor do presidente da República confirma que o Brasil caminha na direção de um Estado de exceção.
Em outubro, antes da soltura de Lula, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, defendeu, em entrevista, medidas como “um novo AI-5” para combater eventual radicalização da esquerda. A declaração de Eduardo Bolsonaro repercutiu negativamente e foi alvo de duras críticas de lideranças políticas e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Chamar povo para rua é de uma irresponsabilidade… Chamar o povo para rua pra dizer que tem o poder, para tomar. Tomar como? Aí o filho do presidente fala em AI-5, aí todo mundo assusta, fala ‘o que que é?’ (…) Aí bate mais no outro. É isso o jogo? É isso o que a gente quer? Eu acho uma insanidade chamar o povo pra rua pra fazer bagunça. Acho uma insanidade”, disse Paulo Guedes, que já teria sido demitido se o Brasil fosse um país sério e o atual governo tivesse algum compromisso com a democracia.
Guedes afirmou que “assim que ele (Lula) chamou para a confusão, veio logo o outro lado e disse ‘é, saia para a rua, vamos botar um excludente de ilicitude, vamos botar o AI-5, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo. Que coisa boa, né? Que clima bom”.
Se Jair Bolsonaro quer adotar a tese de São Tomé, do “ver para crer”, que experimente atentar contra a liberdade e as garantias individuais. É importante salientar que não existe democracia sólida quando o direito ao protesto está desprotegido.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XVI, é calara ao estabelecer que “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada”.
A polarização política que reina atualmente no País é nociva e interessa apenas aos seus protagonistas, que continuam a apostar no discurso de ódio como forma de levar adiante um projeto descabido e antidemocrático.
Se a preocupação do ministro da Economia com Lula não tem limites, a exemplo do que ocorre em boa parte da extrema direita, o melhor que Guedes poderia fazer é pedir ao presidente da República para que viesses a público e solicitasse moderação aos seus apoiadores e à milícia virtual a serviço do governo.
Paulo Guedes é um despreparado quando o assunto é política, o que não lhe confere o direito de atentar contra a democracia apenas para dar vazão à sua conhecida sabujice. Diz a sabedoria que “quem não tem competência, não se estabelece”. Sendo assim, Guedes deveria repensar sua permanência no governo, pois de destampatórios oficiais o brasileiro está cansado.