Oportunismo de Bolsonaro no caso da tragédia de Paraisópolis, na cidade de SP, chega a ser nauseante

Nada pode ser pior do que o oportunismo político, algo presente no cotidiano nacional. No Dia da Consciência Negra, 21 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro adotou silêncio obsequioso, mesmo sabendo que mais da metade da população é formada por negros. Faz-se necessário ressaltar que o racismo ainda perdura no País, mesmo que passados 130 anos da abolição da escravatura.

Bolsonaro também não comentou a atitude do deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), que em 19 de novembro passado quebrou uma placa que continha o desenho de um policial com revólver na mão e um jovem caído no chão, acompanhado da frase “O genocídio da população negra”.

O desgoverno de Jair Bolsonaro pode até fingir desconhecer a realidade, mas é importante destacar que a maioria dos jovens mortos por policiais é de negros, assim como negra é a maioria das penitenciárias espalhadas pelo Brasil. Ignorar esse cenário trágico mostra o descompromisso do governo com projetos sociais, como de igual modo escancara a intolerância de um presidente que é desprovido de sensibilidade, seja política, seja humana. Em um país cuja população é de maioria negra, a omissão do presidente da República foi acintosa.

Que Bolsonaro é um digno representante da velha política todos sabem, mas sua insistência em flertar com o totalitarismo chega a impressionar, mas quem acompanha o jornalismo do UCHO.INFO sabe que muitos foram os nossos alertas para um cenário de perigoso retrocesso.

Tratando as questões humanas a partir do viés político, Jair Bolsonaro resolveu se manifestar sobre a tragédia ocorrida na favela de Paraisópolis, na zona sul paulistana, onde na madrugada de domingo morreram nove jovens pisoteados que tentavam escapar de conflito com policiais militares em um baile funk, o chamado “pancadão”.


“Eu lamento a morte de inocentes”, disse o presidente da República na manhã desta segunda-feira (2), ao deixar o Palácio da Alvorada. Bolsonaro sabe que o episódio provocará ruído na tentativa do governador de São Paulo, João Doria Jr. (PSDB), de chegar ao Palácio do Planalto, por isso não perdeu a chance de exercer o que há de pior na política: o oportunismo.

Doria, por sua vez, ciente de que os dividendos políticos do caso serão negativos, saiu em defesa da Polícia Militar paulista, alegando que a letalidade não foi provocada pelos policiais. “A letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk. É preciso cuidado para não inverter o processo”, disse o governador.

“Não houve ação da polícia em relação a invadir a área onde o baile funk estava ocorrendo. Tanto é fato que o baile funk continuou”, afirmou João Doria. “(O baile) não deveria sequer ter ocorrido, porque é ilegal. Fere a legislação municipal”, completou o tucano, que deveria cobrar seu correligionário e prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas.

Jovens têm morrido no Rio de Janeiro na esteira de balas perdidas que traçam o palco de conflito entre policiais militares e o crime organizado, mas em nenhum momento Bolsonaro proferiu qualquer palavra de apoio às famílias das vítimas desse faroeste a céu aberto em que se transformou uma das maiores e mais importantes cidades brasileiras.

Para a infelicidade geral da nação, a política, apesar de necessária, tronou-se em algo sórdido e nauseante. Ou a população acorda para a realidade enquanto é tempo, ou prepara-se para o pior.