Vitória acachapante de Boris Johnson mostra que britânicos optaram mais uma vez pelo Brexit

A manhã desta sexta-feira (13) raiava em Londres, depois de uma longa noite de eleições, quando a apuração da eleição parlamentar já confirmava que o Partido Conservador de Boris Johnson, maior impulsionador do Brexit, havia ultrapassado a linha mágica da maioria absoluta na Câmara dos Comuns.

O primeiro-ministro britânico pode contar com até 360 das 650 cadeiras na Câmara. Essa confortável maioria é a maior que o Partido Conservador obteve desde os tempos de Margaret Thatcher, 32 anos atrás. A palavra usada por analistas britânicos para descrever o resultado: um terremoto político.

Boris Johnson, aparentemente aliviado, subiu ao palco do centro de apuração de sua zona eleitoral, Uxbridge, em Londres, pouco antes das 5h da manhã. Ali ele ouviu o resultado junto com todos os concorrentes, incluindo candidatos rivais.

Ele obteve 25.351 votos, uma vantagem de 7 mil votos sobre o candidato trabalhista. Os analistas especulavam na semana passada que Johnson podia até perder o seu lugar na Câmara. O primeiro-ministro, que convocou estas eleições antecipadas, triunfou.

“Parece que nos foi dado um mandato poderoso para fazer o Brexit avançar”, disse o líder conservador, em breve discurso. Não se trata apenas de um mandato para o Brexit, afirmou ele, mas também de um mandato para reunificar o país. Johnson falou de um novo “governo de uma nação” que ele agora quer liderar.

Na campanha eleitoral, Boris Johnson, que havia perdido todas as votações na Câmara para a implementação do Brexit porque não tinha maioria suficiente, havia martelado esta promessa aos eleitores: “Vamos concluir logo o Brexit!”

Os eleitores britânicos aparentemente rejeitaram a ideia da oposição de cancelar de forma completa ou adiar mais uma vez a saída da União Europeia e de realizar novo referendo sobre o Brexit.

Para o Partido Trabalhista, foi o pior resultado eleitoral em décadas. Ele terá cerca de 200 lugares na nova Câmara dos Comuns. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, já antecipou as primeiras consequências na sua zona eleitoral, em Islington, em Londres, no início da manhã desta sexta-feira (13/12). Disse que não lideraria mais o partido nas próximas eleições, dentro de quatro anos.

Mas ainda não anunciou uma renúncia imediata, algo que muitos membros decepcionados de seu partido já estão exigindo. Os social-democratas sofreram perdas especialmente nos círculos eleitorais do centro e do norte da Inglaterra. Ali, no referendo de 2016, os eleitores se pronunciaram a favor do Brexit, algo que Corbyn, em sua forma atual, não queria implementar.

Johnson pretende, após a saída da UE, negociar um acordo comercial global com os europeus durante o atual período de transição de 11 meses. Ao mesmo tempo, quer também buscar novas regras comerciais com outras regiões do mundo.

O presidente americano, Donald Trump, já tinha prometido à sua alma gêmea Johnson apoio e condições especiais. “Faremos um acordo melhor do que qualquer outra coisa que a UE possa oferecer. Comemora, Boris!”, escreveu Trump no Twitter nesta manhã.

“A UE está pronta para as próximas etapas”, afirmou, por sua vez, na quinta-feira à noite em Bruxelas o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

De acordo com o sistema de votação por maioria britânica, o candidato com o maior número de votos recebe o mandato. Em muitos círculos eleitorais, os candidatos da oposição social-democrata e liberal-democrata tinham, em conjunto, uma maioria.

Mas, como os partidos não renunciaram aos seus próprios candidatos e não se uniram em torno de um único nome, os candidatos conservadores foram muitas vezes capazes de ganhar mesmo tendo apenas um pouco mais de um terço dos votos.

O Partido Brexit do eurodeputado Nigel Farage não conseguiu ganhar um único mandato. Muitos apoiantes do Brexit preferiram votar nos conservadores para garantir uma maioria na Câmara dos Comuns. Farage disse que o país iria provavelmente negociar acordos comerciais com a UE durante anos. Manifestou-se a favor de uma retirada sem acordo, a chamada “versão dura” do Brexit, uma espécie de rompimento radical.

A parte norte da ilha da Grã-Bretanha ficou fora da tendência nestas eleições. Na Escócia, o Partido Nacional Escocês (SNP) ganhou de lavada. Obteve 48 dos 59 lugares aos quais os escoceses têm direito na Câmara em Londres. O SNP é favorável a que a Escócia permaneça na União Europeia, ainda que o resto do Reino Unido tenha que formalizar sua saída até o fim de janeiro.

A chefe de governo escocesa, Nicola Sturgeon, vai usar a avassaladora vitória eleitoral para impulsionar outra votação sobre a independência do país do Reino Unido. Em 2014, os escoceses rejeitaram a independência num primeiro referendo.

Ruth Davidson, ex-presidente do SNP, dificilmente terá de cumprir uma promessa eleitoral bem especial que fez. Ela havia anunciado que iria se despir e nadar pelo Lago Ness se seu partido obtivesse mais de 50 cadeiras no Parlamento. O monstro do lago teria ficado feliz com sua visita. (Com Deutsche Welle)