Na política nada é por acaso, assim como inexistem coincidências. Em outras palavras, tudo o que acontece na seara política é previamente estudado e planejado. Quando, em maio passado, um pastor evangélico disse que Jair Bolsonaro era um enviado de Deus, iniciava-se naquele momento um plano para dar ao presidente da República “carta branca” para comandar o País, como se isso fosse possível no Estado de Direito.
No final de novembro, durante culto evangélico, Bolsonaro voltou a apelar a Deus para justificar o fato de estar presidente. “Deus tem propósito para cada um de nós. Eu jamais pensei chegar onde cheguei. Tudo sendo feito contra minha pessoa. Sem dinheiro, sem fundo partidário. Aliás, tinham duas coisas a favor de mim: Deus e o povo a nosso lado”, disse o presidente.
No culto de novembro, a intenção de Jair Bolsonaro, mesmo que intrínseca para os desavisados, estava clara para os que convivem com o cotidiano da política: conseguir as assinaturas necessárias para a criação do seu novo partido, o Aliança Pelo Brasil.
Dando sequência ao plano populista, Jair Bolsonaro reuniu no Palácio do Planalto, na terça-feira (17), lideranças evangélicas para um culto, ocasião em que discutiu a estratégia para coletar as assinaturas necessárias para garantir o registro da legenda no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a tempo de participar das eleições municipais do próximo ano. Ou seja, Bolsonaro está usando o nome de Deus em vão.
Presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), bispo Robson Rodovalho, líder da igreja Sara Nossa Terra, disse que foi procurador por um mensageiro de Bolsonaro e que atendeu ao chamado.
“Nas igrejas, os cultos são rápidos e o ajuntamento de pessoas não é tão numeroso, com exceção de templos muito grandes. Mas, como precisa de muitas assinaturas para validar, penso que os eventos, que duram alguns dias, seriam mais proveitosos”, disse ele, revelando a estratégia.
Rodovalho diz ainda que conversou com outros líderes evangélicos e não encontrou ninguém reticente.
“Eu acredito que a Assembleia de Deus, do pastor Silas Câmara (deputado federal do Amazonas pelo Republicanos), também faria com bom coração”, disse ele, referindo-se à igreja coordenada pelo irmão do deputado, onde Bolsonaro esteve recentemente.
De igual modo, Bolsonaro sancionou sem veto o projeto de reforma da Previdência dos militares, pois conta com a caserna para alcançar a quantidade de assinaturas necessárias (491 mil). A reforma da Previdência dos militares é uma afronta aos trabalhadores civis, que terão de pagar a conta de servidores tratados como especiais.