Trump diz que ataque matou general iraniano foi para impedir uma guerra, não para iniciá-la

Em pronunciamento feito na noite de sexta-feira (4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o ataque que resultou na morte do general iraniano Qasem Soleimani, em Bagdá, foi uma ação para parar uma guerra, não para iniciá-la.

A morte de Soleimani, segundo homem mais forte do Irã e chefe da tropa de elite da Guarda Revolucionária do país, causou grande tensão entre líderes mundiais por conta do risco iminente da escalada do conflito entre Washington e Teerã.

Durante o pronunciamento, Trump classificou Soleimani como “o terrorista número 1 do mundo” e disse que o iraniano estava planejando ataques terroristas contra diplomatas e militares norte-americanos.

“Sobre nossa política contra terrorista que ameaçam ou pretendem ameaçar qualquer americano, nós vamos encontrá-lo e eliminá-lo”, disse o presidente dos EUA.

Que Donald Trump é um adepto da fanfarronice todos sabem, mas o ataque que vitimou Soleimani serve como cortina de fumaça para o processo de impeachment que avança no Congresso americano e também para impulsionar a tentativa de reeleição do atual inquilino da Casa Branca. Afinal, quando a soberania dos Estados Unidos está sob ameaça os americanos tendem a ser excessivamente nacionalistas, o que, em tese, poderia beneficiar Trump.

O presidente norte-americano responsabilizou Soleimani pelos ataques a alvos dos EUA no Iraque, incluindo à embaixada em Bagdá no último dia 31 de dezembro. “Soleimani perpetuou atos de terrorismo para desestabilizar o Oriente Médio pelos últimos 20 anos”.

Em declarada campanha pela reeleição, Trump voltou a atacar os democratas, mesmo que de maneira disfarçada e inominada, ao dizer que o ataque que matou Soleimani deveria ter sido feito há muito tempo. “Muitas vidas teriam sido salvas. Recentemente Soleimani liderou a repressão brutal contra protestos no Irã em que mais de mil civis inocentes foram torturados e mortos pelo governo errado.”

Gazeteiro profissional, até porque sabe que uma resposta dura de Teerã poderá ter efeito devastador em termos políticos, Trump disse ter profundo respeito pelo povo iraniano e que não procura mudança de regime no país. “Entretanto o uso do regime iraniano de ações para desestabilizar seus vizinhos deve acabar e deve acabar agora. O futuro pertence ao povo do Irã, àqueles que procuram coexistência pacífica e cooperação, não os terroristas lordes da guerra”.

O que está em jogo não é apenas uma resposta dos EUA à reação de Teerã, mas os interesses de ambos os países no Oriente Médio. Trump não aceita a ação iraniana para catalisar poder na região, formando um bloco contra os Estados Unidos e Israel, principal aliado da Casa Branca.

É importante ressaltar que ao bombardear determinada área de Bagdá, Trump descumpriu acordo militar com o governo iraquiano, o que pode produzir consequências imprevisíveis. Considerando que a vulnerabilidade americana no Iraque é evidente, não causará surpresa se a resposta ao ataque que matou Soleimani partir de forças iraquianas.

Além disso, o governo do Irã tem como aliados na região o Hezbollah, no Líbano; o Hamas e a Jihad Islâmica, na Palestina e na Faixa de Gaza; os rebeldes Houthis, no Iêmen; a Força de Mobilização Popular, no Iraque; milícias xiitas na Síria e no Afeganistão, sem contar o apoio de Síria, China e Rússia. Esse cenário revela um poder de reação sem precedentes, especialmente porque o radicalismo de muitos desses grupos deve ser considerado de chofre.